Por trás do manto que cobre um enredo ingênuo, se esconde uma emoção refletida em uma linguagem. A cada conto, seu texto ultrapassa o tema e namora com a linguagem, até se personalizar em uma espécie de literatura da linguagem. Assim, Fantasmas de caligem, do escritor Paulo Venturelli, chega às livrarias a partir de amanhã (sexta-feira), quando o autor lança oficialmente o livro na Livrarias Curitiba (Shopping Estação), em Curitiba, às 19h. Anteriormente, o autor havia realizado um pré-lançamento. Com 21 contos, a obra tem projeto gráfico de Paulo Sandrini, capa e ilustrações de Mazé Mendes e publicação da Travessa dos Editores.
Natural de Brusque (SC), Venturelli se mudou para a capital do pinhão nos anos 70s e tornou-se mestre e doutor em Letras. Atualmente, ele leciona para entusiasmados alunos sedentos pelo conhecimento de seu mestre, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mais do que mestre, o escritor é um amante da literatura, com quem vive e teve que dividir dois apartamentos para abrigar os 15 mil títulos de sua biblioteca particular. Na literatura de Fantasmas de caligem, se observa como Venturelli escreve tanto através de enredos, como por desenredos, já que seus contos são ricos e afortunados pela língua portuguesa.
Logo no início da obra, que o autor divide em três círculos de contos, em A moça, ele descreve: ?A névoa intensa sobre a cidade torna as pessoas esquias. Elas são velas apagadas. De tão espessa, a camada nebulosa barra o ruído dos carros. E o ruído alonga-se nas veias abertas entre os prédios -as ruas sem direção, deixando nas suas margens quadras e mais quadras para as pessoas amontoarem-se?. Um observador crítico, que a tudo vê, mas que prefere criar a partir da arte. Para o autor, a literatura não precisa ser construída com base na realidade, ela pode derivar do cinema, da música e dela própria.
Em entrevista concedida a revista Idéias (n.º 47), Venturelli afirma que ele cria uma ?nebulosa de linguagem que tenha a ver com o contexto do conto?, ou seja, o mais importante na sua literatura é a própria linguagem. Em outra passagem ele conta de sua obsessão pelo texto, que aparece na obra em personagens visitantes e personagem-escritor, que inclusive discutem pela autoria do texto. Com humor e inteligência, Fantasmas de caligem (R$25) entra para seu currículo que, entre outros, tem Admirável ovo novo, O anjo rouco, A casa do dilúvio e No vale dos sentidos.