Um olhar distante do lance

Se tivesse nascido jogador de futebol, Silvio Luiz seria daqueles que “joga nas onze”. Versátil, ele já fez de tudo na tevê: apresentou, dirigiu, comentou… “Já pintei até parede de cenário!”, acrescenta, bem-humorado.

Mas foi como narrador esportivo e, principalmente, autor de bordões inesquecíveis, como “Pelas barbas do profeta!” e “Pelo amor dos meus filhinhos!”, que Silvio Luiz ficou famoso. Atualmente, ele empresta sua verve irônica a dois programas: o “Apito Final”, que comanda ao lado de Luciano do Valle, e o “Dois na Bola”, que apresenta na Band Sports. “Pela primeira vez, vou assistir à Copa do Mundo como simples torcedor. Essa exclusividade da Globo é a coisa mais burra que existe!”, vocifera.

Desde que estreou na tevê em 1952, Silvio Luiz já cobriu nove Copas do Mundo: três como repórter e seis como narrador. Este ano, ele não vai poder desempenhar nem uma função nem outra. Afinal, a Globo adquiriu, sozinha, os direitos de transmissão dos jogos da Copa. Silvio viveu situação parecida em 1982, quando a Globo transmitiu a Copa da Espanha com exclusividade. Sem outra alternativa, o então locutor da Rádio Record recomendou aos ouvintes: “Abaixe o volume de sua tevê e acompanhe a Copa pelo rádio”. A estratégia deu certo e a emissora triplicou a audiência. “Este não só foi um dos momentos marcantes da minha carreira, como da história da tevê brasileira. Só não faço isso de novo porque a Rádio Bandeirantes já tem o seu narrador”, observa.

P

– O que representa para um locutor de futebol não poder narrar uma Copa do Mundo?

R

– É uma frustração danada. Para qualquer profissional esportivo, aliás, essa exclusividade é muito frustrante. A Globo quer comer o bolo sozinha. No final das contas, todo mundo sai perdendo. Perde quem trabalha nisso porque não pode exercer a profissão. E perde quem torce pela seleção brasileira, que vai ficar sem ter outra opção de cobertura na tevê.

P

– Você gosta do estilo de narração do Galvão Bueno?

R

– O Galvão Bueno é um cara bacana, amigo dos amigos. Toda vez que a gente se encontra é uma festa e, lógico, ele sempre fala muito mais do que eu. Quanto ao estilo, cada um tem o seu…

P

– Semana passada, a Band tornou a apresentar o “Apito Final”. O que você achou da idéia?

R

– O “Apito Final” foi um dos programas que mais contribuiu para eu ganhar exposição na mídia. Mas achei a decisão da Band errada. No domingo à noite, vamos ser mais um programa de debates esportivos. A sugestão de o programa ser exibido às segundas-feiras, às dez da noite, por exemplo, não foi aceita pela direção artística da Band. Já o “Dois na Bola”, da Band Sports, não vai tratar apenas de assuntos esportivos. Vamos analisar os jogos, discutir os melhores momentos, mas vamos repercutir também outras notícias… O programa vai ser dividido em 80% de esportes e 20% de assuntos gerais.

P

– Qual foi o momento mais emocionante que você já viveu numa Copa do Mundo?

R

– A minha vida é cheia de lances emocionantes. Uma lembrança forte que eu guardo da Copa do Mundo do México, em 1986, foi quando o Brasil perdeu a partida para a França na cobrança dos pênaltis. Outro momento inesquecível foi quando li a planilha com a escalação dos jogadores e não vi o nome do Ronaldinho na final da Copa do Mundo de 1998, nos Estados Unidos. Eles não estava nem no banco. Foram dois momentos frustrantes, mas igualmente emocionantes…

P

– Às vésperas de mais uma Copa, você acaba de ser homenageado pelo jornalista Wagner William com a publicação da biografia “Olho no Lance”. O que ela representa para a sua carreira?

R

– É sempre muito difícil você ter o seu trabalho reconhecido por quem quer que seja. Foi muito emocionante ver a minha trajetória retratada num livro. O William falou com muita gente. No final das contas, ele teve de jogar umas 50 páginas fora senão o livro ia ficar muito grande e muito caro. Nem lembro mais o tanto de histórias que ele pôs no lixo. Palavras, o vento leva. Já esse livro vai ficar para a vida toda…

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