Trilha, o chamariz sonoro

Não basta um elenco de primeira, um autor genial e um diretor criativo para uma novela fazer sucesso. A trilha sonora que envolve este tipo de produção também contribui e muito para cativar os espectadores. Por isso, a escolha das músicas que embalam uma novela é planejada meses antes da estréia das produções.

Isto vai desde a abertura, que fica martelando no ouvido do espectador capítulo após capítulo, até temas específicos para determinados personagens. Para tentar fisgar o público pelo ouvido, vale desde rechear as trilhas com sucessos, arriscar novos talentos ou mesmo inovar no estilo das aberturas. Sem contar o lançamento de discos com as trilhas de cada produção, que desde “Esperança” chegam ao mercado na mesma data de estréia das novelas. “A tiragem mínima de uma trilha é de 100 mil cópias. Se o público gostar, podemos lançar vários CDs para divulgar ainda mais a novela”, afirma Eugênio Romaguera, diretor de Marketing da Som Livre, gravadora responsável pelo lançamento das trilhas da Globo.

Ao contrário de “Coração de Estudante”, que teve a trilha preenchida por renomados compositores mineiros, devido à trama se passar em Minas Gerais, a próxima novela das seis vai apostar principalmente em novos talentos. “Sabor da Paixão”, que estréia dia 30 de setembro, vai ter como abertura um samba instrumental de Pixinguinha de 1932 que ganhou letra de Aldir Blanc e Álvaro Sandim. O intérprete de “Sabor da Paixão” será o jovem Marcos Vinícius, ganhador do global “Fama Bis”. Mas a trilha ainda terá outros novos talentos, como Nalanda, Luciana Mello, David Moraes, Max Viana e o grupo Tradição. André Gabeth, que participou do primeiro “Big Brother Brasil”, também está na trilha recheada de sambas, devido à novela também se passar na Lapa, reduto de sambistas do Rio de Janeiro. O ex-“BBB” vai cantar o samba-rock “Porta Bandeira”, faixa de trabalho de seu primeiro disco. “Se a música estourar na novela, vai ajudar o meu disco a ser sucesso”, acredita André.

Hits

As novelas “Malhação”, da Globo, e “Marisol”, do SBT, têm em comum o fato de darem prioridade para canções consagradas. O SBT reuniu no disco de “Marisol” hits como “Como Uma Onda”, de Lulu Santos, e “Quando Gira o Mundo”, de Fábio Júnior. É uma maneira do público que já gosta da música se ligar aos personagens. A protagonista Marisol, por exemplo, tem suas cenas embaladas por “Solidão”, de Sandra de Sá. Em algumas ocasiões, a trilha é tão marcante que mesmo num remake as músicas são mantidas. É o caso de “Sítio do Pica-pau Amarelo”. A nova versão da Globo é embalada pelas mesmas músicas da trilha de 1977, só que com interpretações atualizadas. Gilberto Gil lembra que a abertura surgiu por acaso. “Queriam uma música para a Emília, mas acabei compondo uma para todos os personagens. O pessoal da Globo gostou tanto que acabou virando a abertura. Hoje é impossível descolar a música do programa. Me orgulho disso”, afirma o cantor.

Humor

Já as novelas das sete e oito da Globo optaram por estratégias diferentes para as trilhas. “O Beijo do Vampiro” tem canções que possuem temas que de alguma maneira lembram o universo dos vampiros. Mas a maior preocupação foi em relação à escolha da abertura. Como queria que fosse leve e engraçada, Antônio Calmon lembrou do filme “Um Lobisomem Americano em Londres” e que havia uma ótima versão dos anos 50 de “Blue Moon”, do grupo The Marcels. “Escolhi esta música porque cai como uma luva para uma novela de humor negro. Nunca fui obrigado a aceitar qualquer música por pressão de gravadoras”, afirma o autor. Benedito Ruy Barbosa, autor de “Esperança”, optou por incluir cantores de sucesso na trilha, como Leonardo, Djavan, Fagner, Marina e Nara Leão. A inovação, no caso, foi a abertura, gravada em quatro idiomas em diferentes versões. Além da italiana Laura Pausini, o espanhol Alejandro Sanz e os integrantes do “Fama”, o ator Gilbert, que interpreta o personagem Ezequiel, gravou a versão em iídiche, língua falada por uma parte dos judeus. “A abertura em mais de uma língua ajuda a vender a novela no exterior”, pondera Gilbert.

Tudo começou em 1968

A primeira novela brasileira a ter temas específicos para personagens foi “Beto Rockfeller”, em 1968, na extinta TV Tupi. Quem cantou o tema dos protagonistas Luís Gustavo e Bete Mendes, a francesa “F… Comme Femme” foi o ator e músico Gilbert, que interpreta uma das versões da abertura de “Esperança”. Mas a primeira novela que teve de fato uma trilha sonora foi “O Cafona” (1971), de Bráulio Pedroso, na Globo. Desde então, a Som Livre já lançou mais de 250 trilhas. “Presença de Anita”, que acaba de reestrear na Globo, por exemplo, tem uma trilha recheada de músicas clássicas, como “Bachiana n.º 4”, de Villa-Lobos, e canções francesas. A abertura é uma versão de Maysa para o sucesso “Ne Me Quitte Pas”. “A abertura foi uma sugestão de Maneco que se encaixa muito bem porque sintetiza a história da maioria dos personagens, todos carentes e solitários”, garante o diretor Ricardo Waddington.

Miscelânea musical

* A novela “Vila Madalena” inovou ao apresentar diferentes aberturas. Eram espécies de clipes com diversos cantores da trilha, como Lenine, Milton Nascimento e Fernanda Abreu.

* A maioria das músicas da trilha de “Porto dos Milagres” foi interpretada por cantores baianos, já que a novela se passava na Bahia. Entre eles, Gal Costa, Daniela Mercury, Belô Veloso, Carlinhos Brown e Ivete Sangalo.

* “Nem Vem Que Não Tem”, interpretada em 1967 por Wilson Simonal, em “Os Rebeldes”, foi uma das primeiras músicas cantadas que serviram de fundo musical para cenas.

* A primeira abertura de novela composta sob encomenda foi para “Véu de Noiva”, que a Globo exibiu em 1969. O tema instrumental era “Azymuth” composta por Marcos Valle a pedido de Nélson Motta.

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