Teatro Guaíra estréia Don Giovanni

Um herói legendário, um homem amoral, um arquétipo da libertinagem. Esse é o retrato do personagem central de uma das óperas mais famosas da história, Don Giovanni. Criada por Mozart em 1787, com libreto de Lorenzo da Ponte, o espetáculo inflama o amor e retrata a inconstância do ser humano. A ópera, que esteve no palco do Teatro Guaíra pela última vez em 1989, ganha nova montagem e de hoje até domingo é apresentada em cinco récitas.

O elenco de Don Giovanni traz 32 solistas, brasileiros e italianos, que dividem o palco e o latim, com solos em italiano e português. A parceria é fruto do CCTG com o Conservatório de Música A. Bruzzolla de Adria. O coral conta com direção do maestro Emanuel Martinez e a direção cênica é assinada por Francisco Moura. Com regência do maestro Alessandro Sangiorgi, a Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) sustenta o drama surreal de Mozart. Como muitas composições da época, a ópera foi uma encomenda feita pelo empresário Bondini, para ser estreada na Ópera de Praga.

Dividida em dois atos e cinco cenas, a ópera é composta por Don Giovanni, um nobre depravado (barítono), Leporello, seu servo (barítono); Comendador (baixo); Donna Anna, filha do Comendador (soprano); Don Ottavio, noivo de Donna Anna (tenor); Donna Elvira, nobre abandonada por Don Giovanni (soprano); Zerlina, uma inocente camponesa (soprano) e Masetto, seu noivo (barítono).

A direção cênica procurou trabalhar cada personagem em sua integralidade, já que existe pouco coro e muitos solos. Destacando o caráter alegórico da ópera, o cenário e os figurino são abstratos e contemporâneos. ?Don Gionanni, junto com Fausto, são os dois mitos da sociedade atual. Existe muito a se dizer deles?, afirma Francisco Moura. Para ele, a ópera representa uma ruptura na história operística. ?Todos os musicais representados atualmente são configurados através dela.?

A ação de Don Giovanni se inicia quando ele tenta seduzir Donna Anna. Amante da luxúria, ele é caracterizado de uma forma similar a Casanova, Marquês de Sade e outros homens que viveram os jogos da sedução. Nesse instante entra em cena o comendador, que surpreende Don Giovanni, e o chama para um duelo de espadas, leva a pior, e morre. A vida segue, o sedutor continua conquistando outras mulheres, mas em seu pé uma de suas ex-amantes tenta reatar o caso. Apesar da insistência, Don Giovanni passa a perseguir Zerlina, noiva de Masetto. ?Os personagens são isentos de julgamentos morais?, lembra Moura.

Em alguns momentos o protagonista é cômico, mesmo indiretamente. Seu criado, Leporello, atravessa a ópera contornando situações adversas. Na ária ?Madamina, il catalogo è questo?, ele tenta suavizar a ira de Donna Elvira, uma das mulheres iludidas pelo patrão. Ao longo da história, na versão original, o aristocrata comete crimes e fere gravemente um de seus rivais. O clímax da ópera ocorre quando o Comendador retorna para se vingar de Don Giovanni. ?A cena foi suprimida. A idéia é extremamente moralista?, diz Moura. Para ele, o importante é a diferença que cada personagem possui com crenças e verdades próprias.

Serviço:

Ópera Don Giovanni, no Teatro Guaíra, entre hoje e sábado às 20h30, e domingo às 18h. Ingressos a R$ 20 (platéia), R$ 15 (1.º balcão) e R$10 (2.º balcão).

Corredores se transformam em galerias

A partir de hoje a história do Guaíra é contada em seus corredores e salas, com visitações abertas ao público das segundas às sextas-feiras. Uma parte do acervo do CCTG ficará em exposição permanente no salão de exposição, com adereços, figurinos utilizados em espetáculos teatrais de balé e ópera, materiais cenográficos e obras de arte.

?A proposta é transformar os corredores do teatro numa espécie de galeria, com fotografias ampliadas em tamanhos grandes, retratando cenas de balés, concertos, peças da companhia oficial (TCP) e montagens históricas de outros grupos e companhias?, diz o curador e produtor Áldice Lopes.

O passeio pela memória do Teatro Guaíra é aberto ao público, mas é necessário que os interessados enviem um ofício para a Diretoria Artística em nome de Nena Inoue, pelo telefone (41) 3232-91445. Um monitor acompanha os visitantes em horários pré-estabelecidos.

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