Revolta de Canudos

Com a leitura do clássico Os Sertões, de Euclides da Cunha, que trata do conflito de Canudos e que teve e tem repercussão internacional (edições na Itália, França, China, Holanda, Estados Unidos, Argentina e Suécia), o leitor conhecerá um dos problemas estruturais agrários do Brasil. Voltaire Schilling (2003), escritor e professor de história, diz que Os Sertões tornou-se um marco na literatura brasileira e universal, uma obra de referência obrigatória para que sejam entendidas as complexidades do País.

A revolta de Canudos ocorreu entre 1896 e 1897 na Bahia. Havia desigualdades e muitas injustiças sociais. A concentração das terras nas mãos da elite (minoria) e os latifúndios improdutivos justificaram o conflito. Segundo Jorge Caldeira (1999), “o massacre de Canudos foi revelador da enorme distância entre as intenções do novo governo republicano e a realidade em que vivia a imensa maioria dos brasileiros”. O Presidente do Brasil era Prudente de Morais, representante dos cafeicultores que tomariam o poder a partir do Presidente Campos Sales. Diante da falta de perspectivas e sem referências no poder, os sertanejos encontraram em Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, a esperança da solução dos seus anseios.

Por ser carismático, Conselheiro arrebanhou seguidores às margens do rio Vaza-Barris onde foi fundada a aldeia de Belo Monte em 1893. Essa foi a opção encontrada pelos indivíduos como forma de resistência à exploração em que viviam. Os donos do poder (o Estado brasileiro) observaram que esta comunidade de sobrevivência era uma ameaça ao que estava constituído. Conforme explica Euclides da Cunha (1999), Antônio Conselheiro reagiu aos republicanos, defendeu a volta da monarquia e conclamou o retorno de D. Sebastião (1554-1578), rei de Portugal, que foi morto em combate na batalha de Alcácer-Quibir na África de 1578 ao tentar ampliar os poderes sobre aquele continente. Esta crença é denominada sebastianismo.

Mediante as idéias monarquistas e messiânicas da comunidade do arraial de Canudos, ocorreram embates entre o Estado e essa população. No último deles (quarto confronto), sob o comando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães e com o apoio do Ministro da Guerra, o marechal Machado Bittencourt, os seguidores de Conselheiro foram destruídos.

Considerações – A experiência do final do século XIX, relacionada ao problema da concentração da terra narrada por Euclides da Cunha, lembra certas manifestações presentes no dia-a-dia do brasileiro. De acordo com a Pastoral da Terra e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (2003), um dos exemplos é o fato que ocorreu em Eldorado dos Carajás aos 17 de abril de 1996. Foram assassinados 19 trabalhadores. Outro exemplo é narrado aos 15 de abril de 2003 pela jornalista Cíntia Végas no Paraná-online do jornal O Estado do Paraná: “Ontem, quase na divisa de Curitiba com o município de Campo Largo, cerca de 1,8 mil pessoas, entre trabalhadores sem-terra e seus familiares, realizaram um ato público na BR-277, em frente ao monumento em homenagem a Antônio Tavares Pereira, morto durante um confronto com a polícia no dia 2 de maio de 2000, durante o governo de Jaime Lerner. Um grupo de manifestantes realizou uma encenação para relembrar o assassinato do trabalhador”.

A terra é uma das dádivas do Criador. Partindo deste conceito, partilharemos para evoluir. Na partilha compreenderemos mais a fome no Brasil como fenômeno ligado à terra. Assim acredita-se que o princípio da ética será resgatado.

Jorge Antonio de Queiroz e Silva

é professor e historiador, membro do Instituto Histórico e Geográfico do
Paraná.queirozhistoria@terra.com.br

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