Record procura manter o “espírito” da primeira versão de A Escrava Isaura

Poder, ódio, sedução e cobiça. Os ingredientes de A Escrava Isaura, a novela que a Record estreou semana passada, não são novos, mas funcionam. A adaptação para o clássico romance de Bernardo Guimarães é a maior aposta feita pela emissora nos últimos 30 anos na tentativa de consolidar um pólo de teledramaturgia. E aparentemente a Record busca esse lugar ao sol através de apuro técnico e de uma trama suficientemente atraente. A emissora investiu forte neste projeto – oficialmente, US$ 8,5 milhões – e a decisão de contar a conhecida história da escrava branca que passa por todo tipo de provações, tendo como pano de fundo a luta pela liberdade dos negros e o cotidiano da senzala, foi apenas uma forma de não arriscar numa tentativa de reinventar a maneira de fazer novela. Tanto que foi buscar a experiência do diretor Herval Rossano, também responsável pela primeira versão da trama, em 1976, na Globo.

Herval e Emílio di Biase, com quem divide a direção, estão seguindo o velho padrão consagrado na Globo para os primeiros capítulos: requinte de imagens e a preocupação de apresentar bem os personagens, sem excesso de firulas ou vontade de exibir a grande capacidade técnica do novo equipamento digital da emissora. As cenas, tanto externas como internas, são iluminadas de forma que quem assiste entenda bem o que está vendo. Parece bobagem, mas Metamorphoses começou a se perder exatamente ao tentar fazer cenas na escuridão, achando que era cinema. Os cenários também mostram-se ricos em detalhes e demonstram que as equipes de produção e de pesquisa se esforçaram na tarefa de reproduzir os objetos da época.

E a própria abertura da novela é outra prova de que nem Record, nem Herval querem reinventar nada: usam imagens de quadros do pintor francês Jean-Baptiste Debret que retratam o cotidiano dos negros em situações de trabalho no Século XIX. Os mesmos mostrados na versão de 1976.

A Escrava Isaura da Globo, bem de acordo com a época, buscou foco na busca pela liberdade, usando o início dos movimentos pela abolição da escravatura como uma metáfora pela luta contra a ditadura militar. Na Record, as cenas mais valorizadas parecem ser as do dia-a-dia das senzalas. Também em sintonia com o atual momento, em que encarar a questão da miséria é fundamental no País. Mas até agora a novela tem retratado o cotidiano sofrido dos negros enfocando a injustiça, mas evitando a pieguice, que poderia espantar a freguesia.

O elenco, por sua vez, não deixa a desejar. É convincente a atuação de Bianca Rinaldi como Isaura. A atriz já deu mostras de que não é mais nenhuma “paquitazinha” e que é capaz de segurar o papel de protagonista, mesmo tendo a “sombra” de Lucélia Santos na primeira versão. Leopoldo Pacheco também mostra-se afinado para interpretar o vilão e mau-caráter Leôncio. O toque curioso fica por conta da ótima participação de Rubens de Falco. O ator, que, na primeira adaptação viveu o Leôncio, atualmente interpreta o Comendador Almeida, pai do vilão.

Voltar ao topo