Quatro vezes comédia

Para quem ainda não viu os filmes do Oscar (O pianista, Chicago, As horas), os cinemas oferecem esta semana três comédias – Adaptação, com Nicolas Cage, Meryl Streep e Chris Cooper, A máfia volta ao divã, com Robert De Niro e Billy Crystal e Uma vida em sete dias, com Angelina Jolie e Edward Burns.

No metafilme Adaptação, de Spike Jonze (Quero ser John Malkovich), Nicolas Cage é Charlie Kaufman, um roteirista em entressafra criativa, neurótico e rabugento, que não consegue produzir um roteiro a partir de um best-seller escrito por Meryl Streep, sobre um ladrão de orquídeas (Chris Cooper). Para piorar, Donald, o irmão gêmeo do roteirista (Cage de novo) resolve escrever também, e cria um belo roteiro sobre um assassino em série que sofre de múltipla personalidade. A história é rapidamente vendida, e Donald se torna uma celebridade, o que só aumenta a angústia de Charlie. A solução só aparece quando Charlie resolve incluir o seu próprio dilema pessoal no roteiro, misturando ficção e realidade. O filme é totalmente auto-refe-renciado e autobiográfico: Charlie Kaufman na vida real é o próprio roteirista do filme, e foi mesmo convidado a fazer uma adaptação do livro (real) O ladrão de orquídeas na época do lançamento de Quero ser John Malkovich. E de fato sofreu um bloqueio criativo, do qual escapou com este Adaptação. O filme concorreu aos Oscar de Melhor Ator (Nicolas Cage), Melhor Ator Coadjuvante (Chris Cooper), Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep) e Melhor Roteiro Adaptado.

Fiel à velha fórmula das seqüências de filmes consagrados, Hollywood chove no molhado com A máfia volta ao divã, de Harold Ramis. Paul Vitti encarna novamente Robert De Niro (ou vice-versa), mas dessa vez se finge de louco para escapar da prisão onde estão tentando matá-lo. A polícia o coloca novamente aos cuidados do psiquiatra Ben Sobel (Billy Crystal), que precisa hospedá-lo em casa ainda de luto pela morte do pai. Paul Vitti vai procurar um emprego honesto, e é contratado como conselheiro técnico de um seriado cômico de TV, mas acaba envolvido num assalto de verdade.

Fiasco de bilheteria nos Estados Unidos, Uma Vida em Sete Dias, com direção de Stephen Herek, conta a história de uma jornalista de TV ambiciosa e arrogante (Angelina Jolie, aqui uma loira fatal) de Seattle, que namora um atleta sarado e cabeça-de-vento, e sonha em trabalhar numa rede nacional. Até que depara com um místico de rua, que lhe diz que ela tem apenas mais uma semana de vida. O problema é que o “mago” começa a acertar outras previ-sões, o que leva a repórter a rever seus conceitos – e a começar um romance com o cameraman, a quem detestava.

Pré-estréia

Mais uma comédia está em pré-estréia às sextas e sábados no Cine Curitiba 2 – Encontro de amor, de Wayne Wang, com Jennifer Lopez e Ralph Fiennes. A produção retoma a surradíssima moral da gata borralheira, desta vez com a história de um importante político em campanha para o Senado, que se hospeda num hotel em Manhattan. E – adivinhem – acaba se apaixonando por uma hóspede misteriosa, que, na verdade, é uma das camareiras… original, não?

A origem de

Adaptação

Adaptação tem por base a agonia de um roteirista em levar às telas o livro de Susan Orlean O ladrão de orquídeas, que os leitores brasileiros encontram nas livrarias através da Editora Rocco. Mas não é mesmo fácil explicar a trama que levou sua autora ao mercado das plantas raras para escrever uma história real.

Tudo começa quando Laroche convence a tribo seminole, do Sul da Flórida, a contratá-lo para a montagem de um horto e de um laboratório. Uma iniciativa que encobre o verdadeiro desejo de Laroche: clonar em laboratório a selvagem Polyradicion lindenii, a delicada e rara orquídea-fantasma, que cresce em um único pântano dos Estados Unidos, área de proteção ambiental de onde é proibido retirar qualquer espécie. Apoiado na extravagante teoria de que não era ele que retirava orquídeas do pântano, mas sim os índios, Laroche monta uma estratégia de defesa em que os nativos, por estarem isentos dessa lei, não poderiam ser incriminados. Por conta disso, Laroche também seria inocente, já que estava a serviço da tribo.

A estratégia não deu certo e o caso teve grande repercussão nos EUA. Laroche e um grupo de seminoles foram presos em flagrante, acusados da retirada ilegal de plantas raras do interior do pântano. A partir daí, Laroche inicia uma polêmica judicial que envolveu ambientalistas, repórteres, juristas, advogados e promotores.

Enquanto relata as desventuras de Laroche pelos corredores da Justiça e pelas áreas inabitadas da Flórida, Susan Orlean também revela o fascinante mundo das orquídeas, que move bilhões de dólares por ano e até hoje leva à morte aventureiros em todas as latitudes. Em pleno século XXI, ainda existem colecionadores que enfrentam doenças, animais perigosos e florestas impenetráveis em busca de espécies que podem custar até 25 mil dólares no mercado europeu ou norte-americano.

O crime do padre Amaro

Indicado ao Oscar de filme estrangeiro, O crime do padre Amaro, produção de quatro países (Espanha, México, Argentina e França), enfim ganha exibição em Curitiba, mas fora do circuito comercial – a Cinemateca. Com direção de Carlos Carrera, o filme transpõe para as telas a história de um recém-ordenado padre (Gael Garcia Bernal), que na pequena paróquia de Los Reyes vive um grande drama e profundos dilemas.

O jovem Amaro se apaixona por Amélia (Ana Cláudia Talacón), descobre que o pároco tem ligações com o narcotráfico e que o padre Natálio (Damián Alcazar) é suspeito de encobrir a guerrilha.

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