Quadrinhos e super-heróis viram tema de mestrado

Esta não é a primeira vez que os gibis chegam à universidade. Outras teses acadêmicas já se ocuparam, anteriormente, da chamada arte seqüencial e fizeram dos personagens das tiras de jornal e das revistas quadrinizadas matéria de ensino superior. E, nesse caso, as honras do pioneirismo cabem ao gaúcho Francisco Araújo (onde andará o bom Francisco, amigo do nosso Aramis Millarch?), mestre de história da arte clássica. Inicialmente, na Universidade Federal de Brasília; depois, em São Paulo, capital, e na Unisinos, de São Leopoldo, Região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Desta vez, o jornalista e professor Rodrigo Nathaniel Arco e Flexa elegeu os famosos ?Super-Heróis da EBAL?, a saudosa Editora Brasil-América Ltda., de Adolfo Aizen – que chegou a ser a maior casa publicadora de quadrinhos da América Latina -, como tema de sua dissertação de mestrado em Ciência da Comunicação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. O resultado foi um trabalho de fôlego e seriedade, inédito na bibliografia hoje existente no Brasil sobre HQ.

Com base em extensa e minuciosa pesquisa documental e iconográfica, Arco e Flexa fez um esboço histórico, entremeado de coordenadas teóricas, do surgimento dos comic books, nos Estados Unidos, no início do século passado, focalizando a chegada dos super-heróis ao Brasil, nos idos de 1930, as reações adversas de grupos da sociedade local, o auge e a posterior renovação de personagens como Super-Homem, Batman, Flash, Capitão América, Arqueiro Verde, Mulher Maravilha, Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, Hulk & cia, nas décadas de 60 e 70.

A EBAL de Aizen

Capas das revistas n.º 1 do Superman e do Batman.

?Durante mais de quatro décadas, a EBAL exerceu influências variadas em diversas gerações de leitores, artistas e editores, contribuindo de forma decisiva, entre outras realizações editoriais, para dar legitimidade social às histórias em quadrinhos no Brasil?, destaca Rodrigo Arco e Flexa.

E nesse sentido, torna-se indissociável a figura do Adolfo Aizen, que viria a ser reconhecido como o maior editor de histórias em quadrinhos no País. Em 1934, ele fez uma visita aos Estados Unidos, visitou a redação dos grandes jornais da época e entusiasmou-se com o sucesso (comercial e de público) das historietas ilustradas em tiras diárias e páginas dominicais. De volta ao Brasil, Aizen lançou o Suplemento Infantil, mais tarde rebatizado de Suplemento Juvenil, a primeira publicação nacional dedicada aos grandes personagens dos comics norte-americanos. E, assim, o leitor brasileiro tomou conhecimento de Flash Gordon, Príncipe Valente, Tarzan, Mandrake, Jim das Selvas e Dick Tracy.

A Editora Brasil-América seria criada em 18 de maio de 1945. E o primeiro título de super-herói chegaria em 1947: Superman.

Como enfrentasse grande resistência de educadores, intelectuais teólogos e da própria imprensa, Aizen investiu, num primeiro momento, em publicações educativas, sobre personagens da história nacional, adaptações da literatura brasileira e até mesmo na quadrinização da Bíblia. E a EBAL logo passou a ser conhecida como ?O Reino Encantado das Histórias em Quadrinhos?, participando da evolução da imprensa no Brasil e influenciando decisivamente da trajetória da sociedade.

Super-heróis renovados

Até meados de 1960, a linha de super-heróis da EBAL circunscrevia-se aos personagens da editora americana National Publications, depois denominada DC Comics, como Super-Homem e Batman. Foi então que Aizen resolveu voltar-se para as renovadas criações do Universo Marvel, de Stan Lee e Jack Kirby, lançando uma série de títulos com as aventuras do ?novo? Capitão América, de Homem de Ferro, Namor, Hulk, Homem-Aranha, Demolidor e Quarteto Fantástico.

?Superseres dotados de habilidades especiais, mas problematizados: com fraquezas e dificuldades comuns ?aos mortais?, sejam elas as mais banais do dia-a-dia, como a falta de dinheiro para pagar o aluguel?,acentua Arco e Flexa.

E os então chamados ?super-heróis neuróticos? passam a conquistar novas gerações de leitores no Brasil.

A dissertação de mestrado de Rodrigo Nathaniel Arco e Flexa contextualiza a trajetória da EBAL, propondo a leitura de histórias relevantes lançadas pela editora e reproduzindo uma seleção de imagens e fragmentos de narrativas. Por fim, dedica todo um capítulo a entrevistas colhidas, comentários de leitores e iconografia correspondente. Há também uma valiosa atualização da bibliografia sobre o tema.

?Os Super-Heróis da EBAL? encontra-se, atualmente, disponível para download no  universohq.com.br, mas espera-se que, pela importância do trabalho, logo seja transformado em livro.

Os ainda loucos por gibis agradecem.

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