Professores

Não tenho dúvida de que aprendi muito mais na vida depois que cursei a Universidade do que nas salas de aula, isso sem demérito para qualquer um dos professores, que me deram a base, a não ser um deles que costumava faltar demasiadamente às aulas.

Tive, contudo, o privilégio de ter dois professores extraordinários que nunca me deram aula mas que, apenas conversando, me transmitiram uma grande carga de conhecimentos.

Foram eles Seabra Fagundes e Afonso Arinos de Melo Franco. O primeiro se tornou amigo íntimo; saíamos para almoçar ou jantar no Rio de Janeiro e ficávamos conversando sem preocupação com o tempo e eu com a preocupação de explorar a inteligência e a cultura de Seabra, jurista com tamanha coerência que jamais aceitou os muitos convites que teve para ingressar na vida pública. Chegou a recusar o cargo de desembargador em sua terra natal, ou seja, não aceitou o mais importante cargo que um advogado pode alcançar.

Certa vez Seabra veio a Curitiba para fazer uma palestra e me visitou.

Em meu apartamento, mostrei-lhe a minha biblioteca e ele me surpreendeu dizendo: “Que bom se eu pudesse organizar assim a minha biblioteca”. Surpreendeu-me porque minha biblioteca não tem nada de especial, apenas todos os livros estão nas prateleiras. Os deles, segundo afirmou, estão todos amontoados e cada vez que ele precisa de algum exemplar perde um dia inteiro procurando.

E por falar em biblioteca aconteceu que eu que não tenho inveja de nada, certo dia, confesso, fiquei com inveja da biblioteca de Affonso Arinos de Mello Franco. A sua biblioteca começava no seu gabinete de trabalho e descia para o andar inferior, além de possuir obras especiais que ele, com algum orgulho, me mostrou, indicando várias primeiras edições de obras clássicas e, por isso mesmo, raras.

Costumo dizer que cada vez que tenho uma discussão e o outro sai vencedor, quem ganha sou eu; sou eu que aprendi algo que não sabia. Com Seabra e Arinos não havia a necessidade de discutir, bastava ouvi-los e eu estava aprendendo.

Lições raras e que jamais poderei pagar.

Arinos, em dada oportunidade, me disse: “Ainda não entendi por que no Brasil cada eleição é uma revolução. Eleição é o ato mais normal de uma democracia”.

Parece que, aos poucos, estamos chegando lá.

P.S

. – “Perguntar é ensinar”. (Xenofonte, historiador grego falecido em 355 a.C.)

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