Primal… a caminho da superfície

O veterano grupo Primal…, uma das mais antigas formações do rock curitibano ainda em atividade, faz lançamento duplo hoje às 21h no Jokers (Rua São Francisco, 164), com entrada franca e couvert a 5 reais. Além de celebrar a saída do forno do álbum coré-etuba, o quarteto ainda exibe em primeira mão seu novo videoclipe, para uma das faixas do disco, chamada The Opposites. O trabalho, extremamente conceitual, fala sobre a capital paranaense de uma maneira bem diferente, além de ter como o título a grafia original de Curitiba, em tupi-guarani.

O álbum coré-etuba é o símbolo da nova fase do Primal…, banda que desde 1991 vem representando o lado mais pesado do rock curitibano e que, apesar dos 12 anos de estrada, registrava um fato curioso: o de nunca ter lançado um disco oficialmente. Foram diversas demo-tapes Nailed (93), Homo urbanus (95), Warning” (97) e o demo-single …Far Between Ape And Civilized (02) um videoclipe em 16 mm da faixa Timeless Wintertime (95). Sem falar num extenso currículo de apresentações memoráveis, inclusive com o Misfitis e por duas vezes com o primeiro vocalista do Iron Maiden, Paul Di?anno. Tudo isso ressaltado em críticas positivas de vários fanzines e revistas especializadas.

A banda é tocada com persistência por uma dobradinha que tem história na música da terra dos pinhais. Guto Diaz, o vocalista e guitarrista, veio do Epidemic, pioneiro grupo thrash metal curitibano, da metade dos anos 80. Fabiano Cavassin, homem das guitarras, tocava no Abaixo de Deus, formação que naquela mesma época unia o peso das seis cordas com batidas tribais. Atualmente a formação conta ainda com Carlos Schner (ex-Resist Control) no baixo e Roberto Krug na bateria.

Conceitual

Coré-etuba (Independente) finalmente vê a luz do sol. Extremamente conceitual, o disco trata sobre histórias de uma Curitiba diferente, algo como se a cidade fosse Quasar, o planeta perdido dos Herculóides, ou a mesma Curitiba retratada nas histórias em quadrinhos do herói O Gralha. As letras escritas por Diaz, transbordam simbolismos e referências histórico-artístico-mitológico-religiosas, sempre contando histórias na qual os personagens transformam-se em alter-egos para a expressão dos sentimentos e idéias do próprio vocalista.

Na parte musical, o Primal… deste disco (Mournful Cries Of A Many Thousand Working Men, Scorn, The Dummies Are Coming) traz o peso e a sonoridade das velhas escolas do metal e do hard rock. Contudo, mostra-se flexível ao abrir brechas para saudáveis referências externas. Traços dos climas soturnos do pós-punk e de bandas góticas, como Sisters of Mercy e Killing Joke são registrados em faixas como (Myopia, The Opposites, The Usurper And The Crown Of Thorns, e The Walk Of Ants, faixa épica e progressiva, que se subdivide em duas partes distintas, Datum: Homo urbanus e Theory And Practice). O industrial, outra paixão do vocalista, que há muito tempo se utiliza nos shows dos efeitos visuais e sonoros de um esmeril, também se mostra presente em trechos de (Downwards Inferno e The Warning !). Boomerang fecha o álbum fazendo-o retornar à pancadaria metálica.

Surpresa

No fim, uma surpresa, a décima primeira faixa não creditada, seis minutos de loops ensurdecedores de barulhos, batidas estranhas e dial de AM. Aqui nada há de Primal… , a não ser o gosto pelo lado mais insano do industrialismo sob a forma de musicalidade. A composição batizada de Ko Yvy Oguerokô Jará! (do tupi-guarani “Esta Terra É Nossa!”) é do Mecanotremata, grupo veterano de pouquíssimas apresentações ao vivo que se prolifera em seu próprio laboratório de sons e ruídos.

O álbum coré-etuba merece atenção redobrada, pois apresenta um grupo experiente, com um trabalho conceitual, cheio de energia e esbanjando criatividade. Depois de fazer história no underground, a conquista agora se dará na superfície.

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