O sacerdote escritor

“Eu partia com a alma iluminada de sonhos”

Nascemos em Foz do Iguaçu, freqüentando o mesmo Grupo Escolar Bartholomeu Mitre e, ainda, as aulas de catecismo.

Ele, provindo de uma família modesta, que legou, nada mais, nada menos, que três sacerdotes e duas freiras.

Lembro-me, com saudade, das missas dominicais, quando os genitores de Lotário Welter, senhor Carlos Welter e senhora Verônica Welter, muito religiosos, eram presenças permanentes, vindos do distante sítio, na estrada que demanda ao Porto Meira, na divisão com a República Argentina.

Desde menino, Lotário, seus irmãos Bruno e Oto e suas irmãs Hilda e Maria revelavam a vocação religiosa que realizaria o sonho de seus pais, que pretendiam, quando jovens, consagrar a vida a Deus.

Aos treze anos, Lotário ingressava no Seminário dos Padres da Sociedade do Verbo Divino, em Ponta Grossa, fazendo jus ao epíteto de D. Sebastião Leme, cardeal do Rio de Janeiro (Eu partia com a alma iluminada de sonhos), completando os estudos em Juiz de Fora, até a ordenação sacerdotal.

Sua vida religiosa foi prodigiosa, ocupando diversas paróquias, até reencontrarmo-nos em Matinhos, na década de oitenta, onde permaneceu até julho de 1990, quando, por força de um assalto à mão armada, foi ser missionário no Paraguai.

Atualmente dirige uma paróquia recém-criada em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba.

Dele recebi, recentemente, dois opúsculos que marcam o seu ingresso definitivo na arte literária.

Tempos Heróicos de uma Igreja Nascente é relato fiel da verdadeira odisséia dos primeiros religiosos da então Prelazia de Foz do Iguaçu, com a lembrança de figuras queridíssimas, a iniciar por Monsenhor Guilherme, bem como as viagens pastorais, sertão adentro, escrevendo que “o observador cristão não precisa ser poeta para descobrir e admirar em toda essa exuberante natureza a marca do artífice divino, que pôs em tudo um pouco de si: no encanto e na alegria dos pássaros, no perfume diversificado das flores, na carícia da brisa matinal, no brilho das águas cristalinas das fontes e dos rios, na agilidade dos animais silvestres, no adejar dos colibris e das borboletas multicolores, disputando o doce néctar das flores, no farfalhar das folhas balançando ao vento, como a saudar a passagem dos solitários viajantes”.

Rumo ao Altar é descrição de sua infância e juventude, até tornar-se padre, revelando, ainda, a sua veia poética, como nos poemas No Presépio, Feneceu, Desilusão, Descoberta, Crepúsculo e tantos outros.

O Entardecer é digno de transcrição:

“A tarde cai,
a luz se esvai,
céu de carmim,
tão lindo assim!

Tudo se queda
tudo dormita.
Minha alma leda,
também medita
o gran mistério.

A luz se esvai,
céu de carmim,
tão lindo assim!

O sol murchou,
tudo calou,
tudo morreu,
anoiteceu.

Não mais trinados,
silêncio infindo.
Bosques e prados,
tudo dormindo.

Plectro grandioso!
Tudo calou,
tudo morreu,
anoiteceu.”

Este é, em rápidas pinceladas, o verdadeiro “sacerdote escritor”, cuja vida e obra merecem ser conhecidas.

Foz do Iguaçu, que já nos deu Rubens Requião, o maior comercialista do Brasil e, ainda, Jorge Samek, o novo presidente da Binacional de Itaipu, lega-nos, agora, um religioso com reais virtudes literárias!

Luís Renato Pedroso

é desembargador jubilado e presidente do Centro de Letras do Paraná.

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