O pescoço em evidência

Bianca Castanho levou um susto ao ler o perfil da fisioterapeuta Ciça de “O Beijo do Vampiro”. Afinal, a história da personagem, guardadas as devidas proporções, é muito parecida com a da própria atriz. Isto porque Ciça, a exemplo de Bianca, uma gauchinha de Santa Maria, cidade a 270 km de Porto Alegre, é daquelas moças do interior que sonham em ganhar a vida na cidade grande. “De boba, a Ciça não tem nada. Apesar da pureza típica, ela corre atrás do que acredita”, valoriza a atriz.

Na trama de Antônio Calmon, Ciça põe seu lindo pescocinho em risco ao namorar o sedutor Victor, interpretado por Gabriel Braga Nunes – que contracenou com Bianca em “Terra Nostra”, sua estréia na tevê, em 98. Na novela de Benedito Ruy Barbosa, ela vivia a “ragazza” Florinda e ele, o mulherengo Augusto, marido de Angélica, personagem de Paloma Duarte. Dona de expressivos olhos verdes e sorriso cativante, Bianca temia que o rosto bonito se tornasse um empecilho para outros papéis que não o da heroína romântica. Mas ela já exerceu a veia cômica em “Uga Uga” e despertou a ira dos adolescentes em “Malhação”. “Quero viver mulheres rebeldes, de temperamento difícil, etc. Não tenho vontade de ser a boazinha profissional”, garante.

Dentuços

Por isso mesmo, ela não esconde que adoraria que Ciça fosse vampirizada – e logo! – por Victor. Só assim, teria a chance de pôr em prática o que aprendeu assistindo a fitas e mais fitas sobre vampiros. Não que o autor tivesse feito qualquer recomendação. Mas Bianca alugou diversos filmes do gênero, como “Drácula de Bram Stoker”, de Francis Ford Coppola, e “Entrevista com o Vampiro”, de Neil Jordan, na esperança que fosse escalada para viver uma das “sanguessugas” da novela. Quando soube que faria uma fisioterapeuta, trocou as visitas às locadoras pelas clínicas de reabilitação. Na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação, a ABBR, acompanhou o trabalho de profissionais da área para evitar gafes nas gravações. “Volta e meia, ouço críticas de fisioterapeutas que não são bem retratados em novelas. Corri atrás para não fazer bobagem”, pondera, perfeccionista.

De fato, o perfeccionismo é uma das características marcantes de Bianca Castanho. Quando estreou em “Terra Nostra”, ela aproveitava o intervalo das gravações para dar uma espiada no trabalho de outros atores. Foi assim que chamou a atenção do veterano Raul Cortez, que a convidou para fazer um teste para a Cordélia de “Rei Lear”. Aprovada, Bianca se saiu tão bem como a filha afetuosa do monarca, deserdada justamente por seu excesso de retidão, que ganhou o Prêmio Qualidade Brasil 2000 na categoria revelação. “Até hoje, não esqueço da única vez que contracenei com o Raul Cortez: tinha a boca seca e tremia dos pés à cabeça”, ri.

Fono

E de pensar que por pouco, muito pouco mesmo, Bianca teria seguido a carreira de fonoaudióloga. Ela já estava no primeiro ano da faculdade quando recebeu um convite do diretor Tônio Carvalho para fazer uma das oficinas de atores da Globo. Sete meses antes, ela havia participado de um “work-shop” promovido por Tônio em Porto Alegre porque a mãe, a decoradora Lígia, insistiu muito. “A vida inteira quis ser atriz. Mas, quando cresci, a vontade passou. Sei lá, fiquei tímida de uma hora para outra”, confessa. E foi por insistência da mãe também que Bianca topou viajar para o Rio. “Chorei a viagem toda. Não sabia se era realmente aquilo o que eu queria para mim”, recorda.

Hoje, aos 23 anos, Bianca Castanho é a primeira a admitir que ganhou projeção na Globo de forma repentina. Não é todo dia que um novato estréia em plena novela das oito. Assim que concluiu a oficina de atores, ela se matriculou no curso universitário de teatro. Nas horas vagas, enriquece o currículo com cursos de jazz, canto e sapateado. “Quanto mais completo o ator, melhor”, acredita.

Mas nem todo esse corre-corre atenua a saudade de sua cidade natal. Sempre que arranja uma brecha nas gravações, arruma as malas e viaja para o Sul. Quando não consegue, Bianca não tem outra coisa a fazer senão tomar chimarrão e lembrar dos muitos churrascos de que participou em Santa Maria. “O que mais sinto falta é da casa cheia. Isso é quase uma tradição lá no Sul”, recorda.

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