O gênio da arquitetura completa 100 anos

?Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu País, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, nas nuvens no céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo. O Universo curvo de Einstein.? Assim pensa Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares, considerado um dos maiores arquitetos da atualidade, e que está completando 100 anos hoje. Niemeyer ficou famoso por projetar obras que se tornaram cartões-postais de diversas cidades, como o Parque Ibirapuera em São Paulo, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, as edificações da Pampulha, em Belo Horizonte e o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.

O arquiteto carioca começou sua carreira em 1935, logo após se graduar na Escola Nacional de Belas Artes, no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão. Um ano depois integrou a equipe do projeto do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro primeiro monumento do modernismo na América Latina – e conheceu o arquiteto franco-suíço Le Corbusier, que teve grande influência na obras de Niemeyer, por privilegiar a expressão plástica. E a partir dessa data não parou mais.

No seu currículo surgem obras como, o Palácio da Alvorada em Brasília e os principais prédios da Capital Federal; o Memorial da América Latina, em São Paulo; e o Museu O Homem e seu Universo, em Brasília. No exterior, também são destaques, o prédio sede da Organização das Nações Unidas (ONU), nos Estados Unidos; a Universidade de Constantine, na Argélia; o prédio da editora Mondadori, em Milão; e o Museu de Arte Moderna de Caracas, na Venezuela, além de participar do projeto para reconstrução de Berlim.

No Paraná, a marca de Oscar Niemeyer também está presente em algumas cidades. O arquiteto projetou o Monumento Eldorado Memória, doado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. O monumento, com dez metros de altura, está situado próximo à Curitiba, no quilômetro 108 da rodovia BR-277. As formas livres da obra fazem uma referência ao líder camponês Antônio Tavares Pereira, que foi morto em confronto com a polícia. Em Santa Helena, na costa Oeste do Estado, o arquiteto iniciou, em 1998, os estudos para projetos do Centro Cultural e do Memorial Coluna Prestes. Mas sua obra mais conhecida é o museu que leva o seu nome, em Curitiba, popularmente chamado de ?Museu do Olho?.

Hoje em dia, apesar da idade avançada e de algumas internações, Niemeyer continua trabalhando. Entre seus atuais projetos está o Centro Cultural Internacional Niemeyer de Avilés, sua primeira obra na Espanha. Ele também irá comandar, em 2008, a reforma do Palácio do Planalto. 

Um dos maiores museus do Brasil foi feito em tempo recorde

Oscar Niemeyer emprestou seu nome e sua genialidade a um dos maiores museus do Brasil. A obra, no bairro Centro Cívico, em Curitiba, foi projetada por Niemeyer na década de 60, recebeu uma nova roupagem em 2002 –  primeira vez que o autor concordou em rever um projeto de sua autoria – e se tornou um dos principais cartões postais do Estado. Até hoje as obras do Museu Oscar Niemeyer (MON) são referências pelas tecnologias empregadas e prazo recorde que foram executadas: apenas 185 dias.

Batizado com o nome de NovoMuseu, e um ano depois, rebatizado como Museu Oscar Niemeyer, o então Edifício Castelo Branco foi, inicialmente, projetado para ser uma escola, mas abrigou por diversos anos secretarias de Estado. Quando aceitou rever o projeto, Niemeyer agregou ao prédio um anexo em forma de olho, que é o principal ponto de atenção do museu. O engenheiro civil que foi o responsável geral da obra, Marco Antonio Stavis, lembra que antes mesmo da conclusão do prédio foi preciso coordenar as visitas no local.

?A obra teve um apelo tão grande que tivemos que montar um esquema de visitas, de profissionais e curiosos de todo o Brasil e exterior, que queriam conhecer o conceito da obra?, disse. Um dos fatores que acabou despertando a atenção dos curiosos é que a empresa que executou a obra implantou um acompanhamento fotográfico da construção, e todos os dias era possível ver fotos e arquivos no site da empresa. Esse material também era repassado ao arquiteto Niemeyer, que pôde acompanhar de longe o andamento de sua criação.

Entre os detalhes da obra, o ?Olho? foi anexado à estrutura que já existia. Ele consiste em um duplo balanço, com 70 metros de comprimento e 30 de largura, com cobertura em formato parabólico apoiada em estrutura central (torre) de 21 metros de altura, em concreto protegido. Uma passagem subterrânea faz a ligação entre os dois prédios e elevadores levam a uma sala de exposições de 1.700 m (com pé direito de 10,9 metros no ponto máximo) e a uma outra, no andar inferior, de 900 m. A ampla fachada foi revestida com vidro, e um espelho d?água dá a impressão que a edificação flutua. Cerca de 400 funcionários de diferentes especialidades trabalharam em vários turnos para concluir a obra em cinco meses.

Exposição mostra detalhes das obras de Niemeyer

Mais de 20 fotos e mosaicos de monumentos criados pelo arquiteto foram clicadas com uma câmera especial que permite uma visão panorâmica em 360º. Esse trabalho pode ser visto até dia 20 de janeiro no Museu Oscar Niemeyer. A exposição Oscar Niemeyer 360º – 100 anos de encantamento é assinada pelos fotógrafos Luiz Claudio Lacerda e Rogério Randolph, e foi idealizada a partir das fotos originais que ilustram o livro Oscar Niemeyer 360º – Minhas Obras Favoritas (Editora 360º).

Os fotógrafos viajaram durante oito meses pelo Brasil e por mais três países em busca do melhor ângulo e produziram imagens panorâmicas de prédios e monumentos do Rio de Janeiro à Argélia. As ampliações, de até 10 metros, e mosaicos que compõem a exposição receberam um tratamento especial, a chamada fotografia em 360º. A técnica permite registrar a imagem em um único fotograma e num giro completo, o que permite mostrar as obras sob uma nova perspectiva e revelar a integração da arquitetura com a paisagem brasileira.

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