O folclore e as escolas do Paraná

O folclore tem um velho caso de amor com as escolas paranaenses, mas que ainda não conseguiu se realizar totalmente. Ao chegar o mês de agosto de cada ano, os interesses das escolas se renovam e elas vão buscar novas informações sobre ele. Mas, aos poucos, elas quase o esquecem, como se ele não lhes fizesse falta na vida cotidiana. Depois, sentem aquela dor estranha que está na falta de cultura, como repete em todos os escritos o folclorista Inami Custódio Pinto, e não conseguem valorizar nem seu País, nem seu Estado, nem sua cidade. Não valorizando o que é seu, sentem-se sem identidade, pois o amor ainda não se concretizou. Este trabalho, ao lembrar das características básicas do saber popular, quer dar uma força para que, enfim, folclore e escolas se unam para sempre.

O que é folclore?

Folclore, cuja palavra Folk (povo) e lore (saber), Folk-lore, é “estudo do que o povo sente, pensa, de como age e reage.”(Lima, 1978). A palavra foi criada pelo arqueólogo inglês William John Thoms. Passou a ser escrita sem o hífen, Folklore, e ultimamente foi aportuguesada para Folclore e “consagrada pelo uso”. (Oswaldo Cabral, 1954). Em casos de cultura popular, escreve-se com f minúsculo, em caso de disciplina, com F maiúsculo. A palavra teve confirmação oficial em 1878, ao ser fundada a Sociedade de Folclore em Londres. Foi considerada como tal pela Carta do Folclore Brasileiro, aprovada pelo Primeiro Congresso Brasileiro de Folclore, no Rio de Janeiro, em 1951, “como integrante das ciências antropológicas, da Antropologia cultural, porque na realidade seu estudo é o do homem.”(Inami Custódio Pinto, 1983). De acordo com a definição apresentada durante o VIII Congresso Brasileiro de Folclore ocorrido em 1995 no qual foi realizada releitura da Carta do Folclore Brasileiro de 1951, “folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social.”

Quando é comemorado o folclore?

O Folclore, no Brasil, é comemorado no dia 22 de agosto. Foi estabelecido pelo decreto 56.747 de 17 de agosto de 1965. A Lei 5692/71 tornou obrigatório o estudo do Folclore brasileiro nos currículos dos estabelecimentos de ensino de 1.0 e 2.0 graus (no 3.0 grau já era obrigatório).

O que estuda o folclore?

Estuda narrativas tradicionais (contos populares, contos dos heróis, baladas e canções, lendas, etc.); costumes tradicionais (costumes locais, festas, jogos, etc.); superstições e crenças (bruxaria, astrologia, práticas de feitiçaria, etc.); linguagem popular (ditos populares, nomenclatura popular, provérbios, refrões, adivinhas, etc.), entre outros. (Inami Custódio Pinto, 1983).

Como se caracteriza o folclore no Paraná?

A cultura folclórica sofreu influência dos povos: português, índio, negro, espanhol, alemão, italiano e polonês. Existem muitas lendas, provérbios, comidas típicas que revelam a riqueza cultural dos vários costumes. O fandango agrupa um conjunto de danças folclóricas regionais chamadas marcas. São danças em espaços fechados com assoalho a dois metros do solo. As paredes ficam separadas para maior ressonância dos batidos que são próprios dos homens; as mulheres fazem a coreografia.” (Inami Custódio Pinto, 1983).

Quais são os mestres do fandango no litoral paranaense?

Inami Custódio Pinto, filho de Inamá e Emília Pinto, nasceu aos 19 de outubro de 1930, em Curitiba-PR. Foi professor, apresentador de televisão, roteirista e pesquisador. É autor de mais de 400 composições musicais. Retransmitiu o folclore em colégios de ensino fundamental e médio, estadual e municipal; no ensino superior, na PUCPR, na UFPR e na Fundação de Artes do Paraná. Mantém a Companhia de Danças Mestre Inami, com o grupo Meu Paraná, de Curitiba-PR.

Manuel do Carmo Silva, filho de João Modesto e Laudelina M. da Silva, nasceu no Rio da Vila, em Paranaguá-PR, aos 16 de julho de 1913, e faleceu aos 29 de março de 1979. Segundo o professor Inami, “foi multiplicador das danças e iniciou várias gerações no fabrico e aprendizado de violas e rabecas.”

Romão Costa, filho de Norberto Costa e Elisia Matias, nasceu na Ilha dos Valadares, em Paranaguá-PR, aos 4 de fevereiro de 1929. Exerceu profissão de pescador e estivador, atualmente é aposentado. Seu avô e seu pai eram mestres de Fandango e foram seus professores desde os quatorze anos.

Como os professores podem incentivar os alunos a trabalhar o Folclore em seu universo cultural?

Dentre as muitas modalidades de trabalhar o folclore, os estudiosos do Folclore consideram interessante que as escolas realizem atividades interdisciplinares; que os alunos sejam incentivados a entrevistar pessoas mais velhas para conhecer as lendas, como: Saci-Pererê, Negrinho do Pastoreio, Lobisomem, etc.; as danças, como o fandango, os movimentos das marcas e as letras das músicas; as festas e as artes populares; conversar com artesãos e artistas populares, os que fazem violas, rabecas, cestarias; os que pintam cerâmicas; os que fazem renda ou qualquer outro tipo de arte; pesquisar a medicina popular e as brincadeiras infantis sem esquecer de anotar com detalhes. Algumas escolas costumam realizar apresentações das pesquisas das lendas relatadas por grupos de alunos, por exemplo, e apresentam aos estudantes os informantes do folclore por meio de shows ou palestras.

Dentro em breve as escolas poderão contar com uma obra especial sobre o folclore, de autoria de Inami Custódio Pinto.

Zélia Maria Bonamigo

é jornalista, especialista em Mídia e Despertar da Consciência Crítica, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.E-mail:
zeliabonamigo@uol.com.br

Voltar ao topo