Novo olhar sobre a História do Paraná

Coube à Grafit Editora, de Francisco Beltrão, a primazia da publicação de Paraná Terra de Todas as Gentes, que o professor Hermógenes Lazier lança hoje às 17h no salão nobre da Assembléia Legislativa. O livro de Lazier, que resgata a memória de uma vitoriosa peça teatral de Adherbal Fortes no Guaíra nos idos de 1970, insere-se e valoriza as comemorações dos 150 anos da emancipação política do Paraná, que em 1853 deixou de ser a quinta comarca de São Paulo. Trata-se de um pesquisador que há mais de 40 anos vem estudando a História do Paraná, com vários livros publicados e uma tese de pós-graduação sobre os conflitos pela posse da terra nas regiões Oeste e Sudoeste do Estado.

Operário de fábrica, líder estudantil e adepto de idéias avançadas, Hermógenes Lazier denuncia, já no preâmbulo de seu livro, o descaso com o ensino da História do Paraná nas escolas de todos os níveis: “Muitos professores não trabalham o tema com seus alunos porque não foram preparados para isso na formação acadêmica”.

Para começo de conversa, Lazier traz novas luzes a respeito do Paraná espanhol, um tema pouco explorado por historiadores antigos e modernos, que se limitam à descrição repetitiva de nossas origens hispânicas em decorrência do Tratado de Tordesilhas. Pode-se mesmo dizer que o essencial permanece na penumbra. Um Paraná cheio de conflitos, de escravização de índios pelos colonos espanhóis, de assassinatos a sangue frio. Houve, como se sabe, o entrechoque com os bandeirantes que desciam de São Paulo aos magotes, armados e municiados, para prear índios e vendê-los num comércio sórdido e desumano. Mas foi principalmente a resistência dos índios liderados pelo cacique Guairacá o fator determinante da derrota e expulsão dos espanhóis, igualmente armados até os dentes.

Quem somos

Com admirável poder de síntese, Hermógenes define o Paraná: um caldeamento de sangues e de culturas, talvez único no mundo, ressaltando que a identidade do Paraná vem da sua diversidade. “O nosso atual Estado não possui população autóctone. Todos os que participaram do processo de ocupação são imigrantes, a começar pelos pré-ceramistas e pré-colombianos, ou seja, as famílias lingüísticas jê e tupi-guarani. Vieram os colonizadores espanhóis e portugueses e em seguida os navios negreiros traziam levas de africanos escravizados até o Porto de Paranaguá. No final do século XIX e início do século XX, chegaram os europeus e os asiáticos. No final dos anos 30, o Norte e o Oeste do Paraná foram ocupados por migrantes de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e nordestinos.” Essa notável mistura de raças e culturas foi aos poucos fundindo-se com os nacionais, numa vida comum, acontecendo então o inevitável processo de “acaboclamento”.

As tricas e futricas da política provinciana no Império e na República, sem grandes traumatismos, desfilam como carruagens de fogo nas páginas de Paraná. Com destaques para o drama do Contestado, a Coluna Prestes e os conflitos sempre sangrentos da luta pela posse da terra, assim como as transformações econômicas e sociais verificadas em 150 anos de história. Um livro destinado a fazer a cabeça das novas gerações de paranaenses, e de algumas não tão novas. Imperdível.

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