Novo livro de Veríssimo só parece igual aos outros

Já lá se vão quase dez anos desde que Luís Fernando Veríssimo lançou o primeiro volume de As Comédias da Vida Privada, série de crônicas em que o escritor gaúcho transformou em riso as sutis tiranias, as infidelidades, as paixões fulminantes, os ódios mortais.

Tornou conhecidos, assim, personagens como o marido do Dr. Pompeu, o Mendoncinha, a mulher do Silva, a Regininha. Para recolocar essas histórias de volta às prateleiras das livrarias, a editora Objetiva decidiu não apenas relançar a obra como acrescentar 35 novas crônicas, inéditas em livro. Surge, portanto, O Melhor das Comédias da Vida Privada.

Enquanto finaliza dois novos livros (um sobre seu time do coração, o Internacional, e outro sobre o polegar, para a coleção da Objetiva sobre os dedos da mão), ele se prepara para participar da segunda Festa Literária Internacional de Paraty, que começa no dia 7. No ano passado, Veríssimo estava na cidade, mas teve de viajar apressadamente por causa de um problema de família. Agora, mesmo conhecido por sua timidez, ele está ansioso para conviver com outros escritores, como conta na seguinte entrevista.

Agência Estado

Você disse uma vez que todo autor tem vontade de rever sua obra. Isso o influenciou de alguma forma ao selecionar as histórias de O Melhor das Comédias da Vida Privada?

Luís Fernando Veríssimo

– A Objetiva está relançando os livros antes publicados pela L&PM e são eles, mais especificamente a Isa Pessoa, que fazem a seleção e revisão das crônicas. Eu faço uma revisão final, claro, resistindo à tentação de reescrever tudo, mas a escolha é da editora.

P – Em que ponto é possível comparar suas comédias da vida privada com a série A Vida como Ela É…, de Nelson Rodrigues?

Veríssimo

– Não sei. Em muitos casos são flagrantes do cotidiano e muitas, talvez a maioria, têm a ver com relação a homem-mulher, infidelidades, calhordices recíprocas, às vezes até felicidade. Mas acho que o estilo não tem nada a ver. O Nelson Rodrigues é incomparável.

P – Como você analisaria a evolução das comédias da vida privada ao longo dos anos 1990?

Veríssimo

– As comédias evoluíram na medida em que os hábitos evoluíram, alguns tabus de comportamento mudaram, coisas antes inimagináveis se tornaram corriqueiras e vice-versa.

P – O que era um bom material de inspiração em 1996 e ainda continua sendo?

Veríssimo – A inspiração é sempre gente e a gente continua mais ou menos igual, mesmo mudando o comportamento e as relações.

P – Os diálogos são um diferencial em seus textos. Como desenvolve esse talento sendo, ao mesmo tempo, um escritor retraído?

Veríssimo

– Sou um introvertido, mas meus 67 anos não foram só de introversão. Tive muitas experiências, andei por aí, fora da casca, e ouvi e vi muito os outros vivendo.

Voltar ao topo