Neta critica editora da obra de Graciliano Ramos

O desentendimento entre os herdeiros do escritor Graciliano Ramos, autor de ?Vidas Secas?, ?São Bernardo? e ?Memórias do Cárcere, veio a público, hoje, por meio de um e-mail enviado à reportagem pela neta dele, Luciana Ramos, inventariante de seu espólio, que reclama do tratamendo dado à obra pela Editora Record, detentora dos direitos de venda de seus livros desde o início dos anos 70. A única filha viva do escritor, Luíza Ramos, casada com o irmão de Jorge Amado, James, contesta a reclamação e explica que, dos 14 herdeiros, Luciana é a única insatisfeita com a editora.

Segundo Luciana, ?os 19 livros comercializados pela Record denunciam a falta de cuidado gráfico, um projeto editorial obsoleto, nenhuma atualização bibliográfica?… ?Graciliano Ramos não tem tido um tratamento que toda editora séria deve ter para um clássico da língua.? Ela reclama ainda da falta de uma divulgação eficiente e que ?Graciliano Ramos só exista para a editora Record como mercadoria a ser vendida, periodicamente, ao governo e outras instituições Brasil afora.?

O presidente da Record, Sérgio Machado, contesta Luciana. Segundo ele, são 14 títulos (e não 19), dois extraídos de outros livros após sua morte e dois de cartas, a amigos e a sua mulher, Heloísa. Machado nega também que só o governo compre a obra de Ramos. ?Pelo contrário, ele vende bem em livrarias?, diz o editor. ??Vidas Secas? alcança 50 mil exemplares, em média, por ano, e ?São Bernardo?, 17 mil, em livrarias, sem contar vendas a créditos ou em bancas.? Machado explica a ausência de divulgação na mídia. ?Sua obra não comporta esse tipo de marketing porque já é conhecida. Nosso trabalho é junto a professores e a colégios e seu nível de vendas é a melhor prova da eficiência?, defende-se.

?Mas é verdade que a edição de suas obras está defasada  pois desde a morte de seu filho, Ricardo Ramos, a família não nomeou um curador para a obra, alguém que aprovasse as edições. Para não deixar de editá-la, revolvi me responsabilizar e quando a família decidir quem assume esse papel, vou submeter meu trabalho a essa pessoa. Se não for aprovado, refaço tudo.?

A advogada de Luciana Ramos, Cláudia Ferrari, disse desconhecer a iniciativa de sua cliente e a própria Luciana não respondeu aos e-mails pedindo mais dados sobre suas denúncias. O advogado dos outros 13 herdeiros, Paulo Passarinho, contratado há cerca de um mês para encerrar o processo de inventário que já dura quase 50 anos (o escritor morreu em 1953), informa que o espólio não tem bens materiais, só os direitos autorais de seus livros.

?Como dizia Jorge Amado, Graciliano é um best-seller póstumo. Ele não era rico pois sua obra não tinha valor comercial até sua morte. Quando isso aconteceu, os seis filhos decidiram que os direitos autorais sustentariam sua viúva, dona Heloísa, mas quando ela morreu, há nove anos, começaram as discussões?, conta Sérgio Machado. ?Houve um tempo em que eu tinha que depositar o dinheiro em duas contas diferentes. Para mim seria ótimo resolver isso modernizar o tratamento à obra de Graciliano.?

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