Nelson Rodrigues em palcos curitibanos

Em dezembro de 1929, Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo brasileiro, tinha dezessete anos e trabalhava no jornal “Crítica”, propriedade de seu pai, Mario Rodrigues. Estava na redação quando Sylvia Thibau, vítima de manchetes difamadoras, atirou à queima-roupa em seu irmão Roberto Rodrigues, então com 23 anos. Queria, na verdade, matar Mario Rodrigues. Na ausência deste, matou o filho disponível. Roberto era ilustrador do mesmo jornal e tombou na sala ao lado.

A reportagem policial entrou na vida de Nelson pela intimidade da dor e da perda. Ninguém tem dúvidas de que esse crime influenciou o escritor polêmico que mudaria a história, principalmente, do teatro brasileiro. As paixões arrebatadoras, inexplicáveis e trágicas, apimentadas pelo estilo jornalístico e escandaloso deram estilo à sua obra.

A peça A vida como ela é, uma das mais conhecidas do autor, dá título à montagem adaptada e dirigida por Edson Bueno, que estreia nesta quarta-feira (16), no Mini-auditório do Teatro Guaira. No elenco, Regina Bastos, Tiago luz, Chiris Gomes, Diego Marchioro, Martina Gallarza e Marcel Gritten.

O espetáculo é um mergulho pelo mistério da coragem de Nelson Rodrigues e pela ousadia de seus temas e estilo. Um espetáculo que faz da metalinguagem sua linguagem, para levar às platéias de 2009, a modernidade de Nelson Rodrigues e a profundidade e beleza de seu teatro radical, intenso e puro.

Até hoje, 29 anos após sua morte, sua obra enxerga o que nossos olhos ainda não vêem. Partidário de um teatro que chamava de “agressor”, nunca se intimidou diante das cobranças sociais e das perseguições políticas (era, por exemplo, censurado pela esquerda e pela direita) e, contrariando uma tendência de sua época, a do teatro político, desfilou em sua literatura uma galeria de adúlteros, canalhas, incestuosos, apaixonados, obsessivos e violentos personagens.

Hoje, ninguém duvida serem retratos fiéis e ainda escondidos, de qualquer ser humano, minimamente humano. Construiu sua obra tendo como protagonista o homem prisioneiro de paixões avassaladoras, consideradas vergonhosas pela sociedade. Uma obra/julgamento, como ele mesmo definiu.

Serviço:
A vida como ela é
De 16 de setembro a 4 de outubro – quarta a sábado às 20h, domingo às 19h
Preços: R$20 e R$10 (meia-entrada)
Mini-auditório do Teatro Guaira
Rua Amintas de Barros, s/n
Informações e ingressos antecipados: (41) 3304-7982