Na novela do SBT, Bia Seidl viaja pelo “lado negro da ficção”

A beleza clássica e suave de Bia Seidl – que no passado embalou até comerciais do sabonete Lux – em nada remete às sogras ardilosas e mal-amadas que infernizam a vida das mocinhas de novelas mexicanas. Nem precisa. Para viver a rancorosa Leonor de “Jamais Te Esquecerei”, no SBT, a atriz adotou uma linha de interpretação mais natural. As sobrancelhas arqueadas e cabelos armados com laquê, por exemplo, estão fora de cogitação. “Minha Leonor não é mexicana. Procurei humanizá-la e trazê-la para nossa realidade”, explica a atriz de 41 anos e mais de 20 novelas no currículo.

Segundo Bia, o chamado para a novela mexicana, produzida pelo SBT, veio em boa hora. Ela já estava com saudades de interpretar uma vilã na tevê. “Nem me lembro qual foi a última”, reconhece a atriz, que viveu a dedicada Vera na temporada de 2001 de “Malhação” e vinha numa longa sucessão de papéis “do bem”. Como a rancorosa Leonor da novela de Caridad Bravo Adams, contudo, Bia volta-se outra vez para o “lado negro” da ficção.

A sofisticada personagem é capaz das maiores maldades para separar seu filho Vítor, interpretado por Fábio Azevedo, da bonita Beatriz, de Ana Paula Tabalipa. “Posso adiantar que ela não vai se redimir no final. Será malvada até o último capítulo”, garante, de forma bem-humorada.

De fato, Bia Seidl fala com a propriedade de quem já interpretou várias antagonistas. Viveu, por exemplo, a arrogante Luciana, de “Louco Amor”, de Gilberto Braga, em 83, e a sombria Diana de “O Sexo dos Anjos”- na verdade, era a Morte em pessoa na novela de Ivani Ribeiro, em 89. Mas até hoje a atriz garante que é lembrada pela invejosa Gláucia, de “A Gata Comeu”, outra novela de Ivani, exibida na Globo em 85 e reprisada em 2001. “Os vilões têm um função muito importante, que é servir de exemplo para que nunca sejamos como eles”, pondera.

Multicultural

Falar textos traduzidos de uma obra mexicana não chega a ser um problema para a atriz. “Na verdade, é como fazer um papel escrito por um autor do Nordeste ou do Sul do país. Cada um tem sua cadência natural”, compara. O que a incomoda, contudo, é o fato de fazer uma novela estrangeira em vez de prestigiar autores nacionais. “A própria Ecila Pedroso, que traduz ?Jamais Te Esquecerei? é uma grande autora – talvez subaproveitada… Mas isso é assunto do SBT”, desconversa.

Bia Seidl fez sua estréia na tevê em 81, na novela “Jogo da Vida”, de Sílvio de Abreu. Mais tarde, participou de produções como “Mandala”, “Vale Tudo”, “Memorial de Maria Moura” e “Vamp”, todas na Globo. Mesmo assim, Bia nunca se considerou uma atriz “global”. “Não fiz carreira de protagonista e nunca fui ?prata da casa? na Globo. Então, tive de abrir outras frentes e vou para onde me chamam”, revela, sem cerimônia.

De fato, só no SBT, a atriz atuou em “Sangue do Meu Sangue”, em 95, e “Ossos do Barão”, em 97. Antes disso, na extinta Manchete, viveu a rival de Maitê Proença em “Dona Beija”, de 86 – um de seus trabalhos preferidos. “É muito gratificante participar de obras bem-feitas. Mas não tenho ilusões com a tevê. Novela não é Tchecov, não é Shakespeare. É folhetim, entretenimento para as pessoas na hora do jantar”, diz, sem rodeios.

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