Na linha de fogo

Desde que trocou a todo-poderosa Globo pela modesta Rede TV!, em março deste ano, o jornalista Marcelo Rezende ainda não disse a que veio. Também pudera. O programa “Repórter Cidadão”, que ele estava cotado para apresentar ao lado do comentarista esportivo Jorge Kajuru, acabou não estreando. Ou melhor: estreou sob o comando de José Luiz Datena. Só agora, três meses depois, Marcelo se prepara para assumir, na próxima segunda, dia 24, o comando do “Jornal da TV!”, que mescla “hard news” com prestação de serviços. “Não vamos mostrar só tragédia. Mesmo porque a vida da gente não é só desgraça. Quero que o telejornal reflita os problemas do país, mas quero também mostrar coisas boas”, alardeia.

Precavido, Marcelo Rezende logo se apressa em rechaçar qualquer eventual comparação com outros telejornais de enfoque “policialesco”, como o “Cidade Alerta”, da Record, ou o “Brasil Urgente”, da Band. Segundo ele, a vida do cidadão comum pode ser dividida em 70% de coisas boas, 20% de problemas corriqueiros e só 10% de desgraças. “O que acontece é que boa parte dos telejornais se concentra apenas nos 30% ruins”, calcula. Por isso mesmo, Marcelo Rezende pretende mostrar também bons exemplos a serem seguidos, como projetos sociais ou campanhas assistencialistas. Mas como notícias boas não costumam render manchetes nos jornais, Marcelo deve se ater mesmo no que ele sabe fazer de melhor: matérias investigativas. “Vou tentar conciliar as duas funções, mas já sei o quanto isso vai ser difícil. Às vezes, saio da Rede TV! completamente extenuado”, valoriza.

Embora Marcelo Rezende rejeite comparações, o formato do “Jornal da TV!” não é lá muito original. No meio do estúdio, a figura do “âncora” transita de um lado para o outro, ora chamando reportagens policiais, ora tecendo comentários indignados. “A estréia como âncora é um passo à frente na carreira de todo repórter”, enfatiza. À primeira vista, a única diferença entre o “Jornal da TV!” e os outros similares do gênero é o horário de exibição. Em vez de atravancar ainda mais a faixa das 18 h, já subjugada por programas como “Cidade Alerta”, “Brasil Urgente” e o próprio “Repórter Cidadão”, da Rede TV!, o “Jornal da TV!” só vai ao ar a partir das 22 h. “Vamos atender a um público que não teve tempo de assistir a nenhum outro telejornal. O telespectador quer se manter informado”, observa.

Coincidência ou não, o “Jornal da TV!” vai ao ar no mesmo horário que o “Linha Direta”, programa que Marcelo Rezende apresentou por dois anos na Globo. Depois de 16 anos de serviços prestados à emissora, Marcelo recusou uma proposta de revisão de contrato e preferiu assinar com a Rede TV! por quatro anos. Ao mesmo tempo que acalentava o sonho de se tornar “âncora” de um telejornal, ele admite que sua vocação para a reportagem não podia ser exercida no “Linha Direta”. “Eu gostava do programa quando eu podia entrevistar os suspeitos na delegacia. Depois disso, minha atuação ficou restrita à apresentação. Acabei perdendo o interesse”, esclarece. No “Jornal da TV!”, Marcelo pretende fazer muito mais do que simplesmente ler o “teleprompter”. Segundo ele, o jornalismo impessoal está com os dias contados. “Em muito pouco tempo, o jornalismo ancorado vai imperar na tevê. Afinal, o ‘âncora’ leva para o telejornal toda a sua credibilidade como repórter”, acredita.

Com mais de 30 anos de atividade profissional, Marcelo Rezende já se aventurou por matérias envolvendo tráfico de armas, corrupção no futebol, pirataria fonográfica, entre outras. Duas delas, porém, se destacaram. A entrevista que fez com o “motoboy” Francisco de Assis, o “Maníaco do Parque”, para o “Fantástico”, e a reportagem que denunciou o abuso de autoridade policial numa blitz na Favela Naval, em Diadema, região do Grande ABC, para o “Jornal Nacional”. “Já fiz muita coisa na vida. Mas reportagem de rua é o melhor que tenho a oferecer. Não posso abrir mão disso”, justifica.

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