Música não depende de dom

Quem já não ouviu dizer que para estudar música é preciso ter dom? Eu ouvi e resolvi tirar essa dúvida com o musicólogo Roger Lisardo, que atua no ensino de música para crianças e adultos, como professor de violino, viola, teoria, percepção musical e história da música, em Curitiba, desde que chegou em 2005.

Em sua dissertação de mestrado em musicologia, A música como ideal romântico: o Beethoven de Richard Wagner, defendida no Instituto de Artes da Unesp-Universidade Estadual Paulista, em 2005, estudou a relação entre música e filosofia no século XIX, através da produção teórica do compositor alemão Richard Wagner. Essa linha de pesquisa analisa ?o que se entendia como música? em determinada época usando abordagem interdisciplinar, associando a linguagem dos sons com outras áreas do saber, como a filosofia, a sociologia, a psicologia, a história.

?Não concordo. A idéia de dom é um conceito do século XIX associada com o que se chamava de ?gênio?, aquele que era capaz de ir além da percepção de mundo dos seres humanos comuns, criar e compartilhar com os demais os resultados dessa capacidade inata. Schopenhauer dizia que o ?gênio? era o ?olho claro do mundo?. O dom, ou melhor, a aptidão só se mostra através do estudo continuado. Como diria a grande pianista brasileira Magda Tagliaferro: não há dom que resista à falta de estudo?, explicou Lisardo.

Propriocepção. O professor destaca que o aprendizado do violino e da viola deve levar em conta o desenvolvimento gradual da percepção auditiva. Uma vez que o violino não tem trastes como o violão, por exemplo, a afinação só é possível através de dois elementos:.primeiro deles é ação, uma sensibilidade própria aos ossos, músculos, tendões e às articulações, que fornece informações sobre a estática, o equilíbrio, o deslocamento do corpo no espaço, etc. No violino a propriocepção atua ?ensinando? aos dedos o lugar certo onde devem cair.

Percepção auditiva. Somente a propriocepção não garante um resultado satisfatório. Lisardo aponta o segundo elemento, percepção auditiva. Através do estudo do reconhecimento das notas, o aluno forma anteriormente no ouvido uma ?idéia? do que vai tocar.

?São a disciplina e o estudo os responsáveis pela criação de um artista. Obviamente que todos somos diferentes e possuímos habilidades e facilidades diferentes, mas respeitando e trabalhando com essas diferenças todos podem tocar um instrumento?, explicou o músico, que se coloca à disposição do leitor (3224-9732 e 9131-6860).

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestre em antropologia pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

zeliabonamigo@uol.com.br

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