Museu da Casa Brasileira faz tributo aos 50 anos da Op Art

Há 50 anos, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) abriu uma exposição, “The Responsive Eye”, cuja ressonância foi muito além do que imaginavam seus organizadores. Primeira exposição internacional de optical art (op art) de grande repercussão, ela reuniu alguns dos expoentes do movimento, que ganhou força nos anos 1950 graças ao empenho da galerista francesa Denise René (1913-2012). Em 1955, ela promoveu uma mostra para lançar os principais nomes da arte cinética, revelando artistas como o israelense Yaagov Agam e o venezuelano Cruz-Diez, dois dos nomes que estão na exposição “Op Art – Ilusões do Olhar”, que o Museu da Casa Brasileira abre nesta quinta-feira, 16, às 19h30.

A mostra, um panorama sucinto do movimento, que extrapolou a dimensão pictórica para ganhar espaço no mundo da moda, do design e do cinema, tem como curadora Denise Mattar. Ela reuniu um pouco de todas essas manifestações, das pinturas de artistas ligados à vertente concreta e neoconcreta (Judith Lauand, Luiz Sacilotto, Fiaminghi, Lothar Charoux, Lygia Clark, Hélio Oiticica) a peças assinadas por designers como Alexandre Wollner, Almir Mavignier e Antonio Maluf, este último autor do cartaz da 1.ª Bienal Internacional de São Paulo. Em 1951, Maluf concebeu esse cartaz de caráter antecipatório, brincando com o ilusionismo característico dos trabalhos da op art, que transmitem ao espectador uma impressão de movimento e instabilidade.

Curiosamente, a mostra, com expografia de Guilherme Isnard, terá um espaço interno no museu que será ocupado pela Fundação Oftalmológica Dr. Rubem Cunha para medir a acuidade visual de estudantes atendidos pelo serviço educativo da instituição. Justificável. O desconhecimento de problemas visuais “é um dos principais elementos responsáveis pela evasão escolar no Brasil”, segundo o médico Marcelo Cunha, da fundação Rubem Cunha. Muitas crianças perdem o interesse nas aulas por dificuldades de visão.

Com mais de 200 itens, divididos em três módulos temáticos (design gráfico, mobiliário e objetos), a exposição Op Art abre com um óleo referencial do veterano pintor britânico Jeffrey Steele, Baroque Experiment – Fred Maddox, pintado entre 1961 e 1962, quando o artista só usava o preto e branco (ele incorporou a cor em seus trabalhos apenas nos anos 1970). Foi justamente essa obra a escolhida pela revista Time, em outubro de 1964, para ilustrar o texto que cunhou o termo op art. Steele, que participou com ela da mostra do MoMA, passou três meses em Nova York e, lembra a curadora Denise Mattar, foi tema de um dos primeiros filmes dirigidos por Brian de Palma, então um garoto de 24 anos, em 1964.

Todas as obras da exposição pertencem a colecionadores brasileiros. São peças de artistas de carreira internacional – como Lygia Clark, Oiticica e Mavignier. Há desde trabalhos históricos, feitos na fase embrionária do abstracionismo no Brasil – como um estudo (guache sobre cartão) de Maurício Nogueira Lima, de 1951 – até obras mais recentes, como a do capixaba Hilal Sami Hi-lal, um sol estilizado (de 2013) cujos raios são feitos de metal cortado a laser. As obras neoconcretas de Oiticica (um metaesquema de 1957/58) e de Lygia Clark (uma superfície modulada de 1952) ainda nem eram assim chamadas, uma vez que o Manifesto Neoconcreto só seria assinado em 1959. Daí sua inclusão numa mostra de op art. Nelas, importa a impressão de movimento, não a relação com os princípios radicais do concretismo.

A curadora Denise Mattar bem que gostaria de ter trazido outros nomes internacionais além de Agam, Cruz-Diez ou Vasarely, mas o alto custo do seguro das obras de artistas referenciais da op art é desestimulante.

Uma ausência notável, por exemplo, é a da pintora inglesa Bridget Riley, referência máxima de Beatriz Milhazes. Os padrões geométricos de sua pintura ficaram tão populares que não tardaram a ser incorporados pela indústria de roupas – ela processou uma empresa americana por isso – e até pelo cinema. Numa das cenas da primeira versão de “Cassino Royale”, de 1967, James Bond é torturado pelo vilão Le Chiffre numa sala/cubo cujas paredes servem de tela para projeção das pinturas de Riley.

A curadora mandou confeccionar especialmente para a mostra uma réplica de um vestido “op” desenhado para a Rhodia, nos anos 1960, pelo artista neoconcreto Hércules Barsotti (1914-2010). Ao lado dele se encontram outras roupas vintage, óculos, sapatos e almofadas que usam padrões op, além de móveis. Um delírio visual. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

OP ART – ILUSÕES DO OLHAR

Museu da Casa Brasileira. Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2.705, tel. (011) 3032-3727. De 3ª a dom., das 10 h às 18 h. R$ 6. Até 1º/6.

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