Murilo Rosa, um galã sem rodeios

tv31.jpgPor pouco o ator Murilo Rosa não foi demitido de América antes mesmo de a novela estrear. Quando soube que interpretaria Dinho, um peão de rodeios na trama de Glória Perez, procurou se inteirar do assunto. Como tantos outros atores do núcleo country da novela, viajou para Barretos, assistiu a rodeios e conversou com peões. Não satisfeito, decidiu montar em um touro de verdade. Cauteloso, começou por uma égua. Três montarias depois, aventurou-se num touro. A proeza aconteceu na fazenda de Tião Procópio, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Eufórico, Murilo garante que se sentiu o próprio Indiana Jones quando terminou de montar o animal. ?O Jayme Monjardim, quando soube, me deu um esporro daqueles: ?Tá maluco? E se quebrasse uma perna?? Quase me demitiu da novela. A Glória também ficou brava comigo. Mas, que foi uma experiência bacana, foi?, avalia ele.

 Com mais de 10 anos de carreira na tevê iniciados em 1994 na modestíssima 74.5 Uma Onda no Ar, da extinta Manchete, o brasiliense Murilo Rosa sempre gostou de exercitar as mais variadas habilidades. Por conta de seus inúmeros trabalhos de época – foram oito num total de onze -, aprendeu tiro, dança, montaria, violão e esgrima. Dessa vez, não poderia ser diferente. Em sua primeira trama atual na Globo, resolveu caprichar. Como já estava reservado para América desde o início do ano passado quando fez a minissérie Um Só Coração, de Maria Adelaide Amaral , tirou o ano de 2004 para visitar fazendas, rodeios e afins. ?A gente não faz idéia do dinheiro absurdo que esse mercado movimenta. No Brasil, há cerca de mil rodeios por ano. É um evento que atrai mais público que o futebol?, acredita.

Em suas andanças pelo interior de São Paulo, Murilo teve a oportunidade de conhecer, na fazenda de Paulo Emílio, em São José do Rio Preto, o temido Bandido, um de seus colegas de trabalho em América. É com ele que o valente Dinho vai disputar o amor de Neuta, interpretada por Eliane Giardini. Afinal, os moradores de Boiadeiros acreditam que o touro é, na verdade, a reencarnação do finado marido da viúva. ?Nunca pensei que, um dia, disputaria quem quer que fosse com um touro?, brinca ele. No circuito dos rodeios, Bandido é famoso por já ter derrubado mais de 200 peões. ?O bicho é assustador mesmo. Foi um legítimo caso de antipatia à primeira vista?, entrega.

Devoção

Por essas e outras, a característica dos peões de rodeio que mais chamou a atenção do ator foi a religiosidade. Muitos deles são devotos de Nossa Senhora Aparecida e trazem um santinho dela no forro do chapéu. ?Eles só têm coragem para encarar um touro de uma tonelada porque acreditam em Deus. Para se ter uma idéia, muitos já viram algum companheiro morrer na arena?, relata. O caso que mais impressionou o ator foi o de Nei Lovan. Certa vez, o peão foi jogado a uma altura de sete metros pelo touro Bandido. Ao cair de pescoço, quebrou a sétima vértebra. Mesmo assim, não se acovardou. Anos depois, voltou a montar o mesmíssimo animal. ?Os peões têm uma relação de amizade com o boi. Quando rezam, pedem proteção para eles e para os animais também?, observa.

Também no SBT

Aos 34 anos, Murilo Rosa vive outra experiência inédita em sua carreira. Atualmente, ele pode ser visto tanto em América, na Globo, quanto na reprise de Xica da Silva, no SBT. No currículo do ator, a trama escrita por Walcyr Carrasco em 1997, sob o pseudônimo de Adamo Angel, ocupa um lugar de destaque. Foi nessa época que ele conheceu o diretor que deu uma guinada em sua carreira: o já falecido Walter Avancini, com quem trabalhou também em Mandacaru, O Cravo e a Rosa e A Padroeira. A lamentar, pondera Murilo, só o fato de Xica da Silva estar batendo com América na faixa das 21h. ?Preferia que ela fosse exibida em outro horário. É ruim saber que estou disputando audiência comigo mesmo?, brinca o ator.

Aspirante a professor trancou universidade

Antes de enveredar pela carreira artística, Murilo Araújo Rosa pensou em ser professor de Educação Física. Mas trancou a faculdade quando soube que um diretor de Brasília, cidade onde nasceu, estava recrutando universitários para rodarem um curta. Depois de trocar de carreira, trocou também de cidade. No Rio, fez o tradicional curso de Teatro no Tablado, criado por Maria Clara Machado. A estréia na tevê aconteceu em 1994, quando fez o rebelde Caio Daniel em 74.5 Uma Onda no Ar, da Manchete. ?A novela não teve a audiência desejada, mas serviu para me abrir algumas portas?, acredita.

 De fato, uma das portas que 74.5 Uma Onda no Ar abriu para Murilo foi a da Globo. Em Malhação, interpretou Jurandir, um rapaz meio afetado que vivia sendo assediado por Juli, personagem de Carolina Dieckmann. ?Com esse trabalho, passei a ser mais reconhecido nas ruas. As pessoas só me chamavam de ?frutinha??, diverte-se ele. A participação em Antônio Alves, Taxista, uma co-produção do SBT com a produtora argentina Ronda Estúdios, também não foi das mais promissoras. ?Pelo menos, consegui comprar meu primeiro apartamento?, consola-se.

 No ano seguinte, Murilo Rosa voltou para a Manchete. Sob a direção de Walter Avancini, fez duas de suas novelas favoritas: Xica da Silva e Mandacaru. Filho da historiadora Maria Luiza Rosa, aprendeu a esmiuçar o período histórico em que as novelas são ambientadas. Foi assim com a abolição da escravatura em Xica da Silva, o ciclo do cangaço em Mandacaru, a Semana de Arte Moderna em O Cravo e a Rosa.

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