Mostra em SP reúne filmografia completa de Hitchcock

Barriga proeminente, cabeça calva, gestos vagorosos, jeito levemente parvo – Alfred Hitchcock (1899-1980) não apresentava nenhum vestígio aterrorizante, nenhum sinal daquele homem que, no cinema, provocou arrepios na plateia durante meio século. Basta lembrar da cena do chuveiro, em “Psicose”; ou da angustiante espera pelo tocar dos címbalos da orquestra em “O Homem Que Sabia Demais”; ou ainda da aproximação do assassino em “Janela Indiscreta”. Ele foi o cineasta que sabia como ninguém envolver o público em uma atmosfera de expectativa e medo.

Se ainda resta alguma dúvida sobre tal capacidade, basta iniciar uma peregrinação diária ao CCBB que, a partir de quarta-feira, vai apresentar boa parte da obra de Hitchcock durante seis semanas. Nesse período, serão apresentados 54 longas e 127 episódios de sua série para a televisão, além de três curtas. Melhor: a apresentação será em película de 35 mm, ou seja, sem aquele aspecto de imagem de TV se fosse em DVD.

“Considere essa mostra um privilégio e uma bênção, em meio a tanta porcaria exibida nos cinemas hoje em dia”, disse o cineasta Peter Bogdanovich, em entrevista por telefone. “Observada a obra em sequência, é possível detectar a incrível organicidade do cinema de Hitchcock.” Bogdanovich é autor de filmes respeitáveis, como “A Última Sessão de Cinema”, mas sua contribuição à sétima arte é reforçada com entrevistas que fez com célebres cineastas, no momento (anos 1960 e 70) em que os grandes estúdios estavam se desmobilizando – foi assim com John Ford e, claro, Hitchcock.

Hitchcock especializou-se em revelar o segredo das pessoas – cineasta do voyeurismo, do olho e da dúvida, da ambiguidade, ele tornou-se célebre por mostrar o verso e o reverso do mundo. “Ele foi perfeito ao usar todos os recursos do cinema que dispunha para chocar, cativar e até mesmo seduzir o público”, observa Adrian Wootton, chefe executivo do Film London e especialista na obra de Hitchcock, em entrevista realizada por e-mail.

Bastidores – “Psicose” mostrou pela primeira vez na história do cinema um vaso sanitário (até então proibido pela censura).

A partir de “O Pensionista”, de 1927, Hitchcock iniciou suas aparições nos filmes, tornando-se uma de suas marcas. “O Homem Errado” é o único longa em que ele fala.

“Em Um Corpo Que Cai”, ele usou a famosa combinação de avançar o zoom e retornar o foco para transmitir a sensação de vertigem para o público.

“Quando Fala o Coração” foi um dos primeiros filmes americanos a tratar da psicanálise. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Mostra Hitchcock – CCBB (Rua Álvares Penteado, 112). Tel. (011) 3113-3651. R$ 4. Até 24/07. Cinesesc (Rua Augusta, 2.075). Tel. (011) 3087-0500. De 07 a 17/07.

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