Mostra de Dalí no Rio reúne telas, filmes e ilustrações

Pintor, ilustrador, designer, cineasta, cenógrafo – além de um formidável agitador cultural. Homem do século 20, Salvador Dalí (1904-1989) foi multiartista quando o termo ainda não existia. Os diversos talentos, obsessões e fetiches do mestre catalão são apresentados ao público carioca na ambiciosa mostra que o Centro Cultural do Branco do Brasil (CCBB) do Rio abre nesta sexta-feira, 30.

Trata-se da maior e mais significativa coleção de Dalí a ser exibida por aqui, segundo os organizadores. Custou R$ 9 milhões. Serão 29 pinturas, 80 gravuras e desenhos, além de fotografias, documentos e filmes, que cobrem dos anos 1920 ao fim da vida. A vinda desse material foi negociada durante cinco longos anos com a Fundação Gala-Dalí (de Figueres, cidade onde ele nasceu), Museu Reina Sofía (de Madri) e Museu Salvador Dalí (na Flórida) pelo Instituto Tomie Ohtake – uma parte menor do conjunto segue para lá em outubro.

Se nos últimos dois meses as esculturas hiper-realistas do australiano Ron Mueck foram a sensação das artes plásticas no Rio – 250 mil pessoas já estiveram no Museu de Arte Moderna para vê-las -, o surrealista tem tudo para dar novo recorde de público ao CCBB, que teve como ápice uma mostra de Aleijadinho, realizada entre 2006 e 2007 (foram 900 mil visitantes em quatro meses).

A disposição das obras nos 1 mil metros quadrados do primeiro andar do CCBB aguça a curiosidade do visitante sobre o Dalí do qual já se ouviu muito falar, mas pouco se conhece de fato. A iluminação é dramática, tal qual o personagem, e as legendas são alentadas.

Entra-se por uma sala que introduz o pintor ainda impressionista, do início dos anos 1920, que pinta a família (o pai e a irmã estão em quadros de 1920 e 1925), as paisagens de sua terra natal e naturezas-mortas.

Passa-se rapidamente por um Dalí abstrato e cubista, do qual se destaca “Figuras Tumbadas En La Arena”, tela de apenas 20 por 27 centímetros que dá a dimensão do que foi o encontro com Pablo Picasso, a quem conheceu em 1926, em Paris. Três anos depois, viria a descoberta de Gala, a musa maior.

As maiores joias estão na sessão dedicada ao surrealismo, o grande chamariz da mostra. É onde estão “El Sentimiento de Velocidad” (1931), “Monumento Imperial a la Mujer Niña” (1929), “Figura y Drapeado en un Paisaje” (1935) e “Composición Surrealista con Figuras Invisibles” (1936), que contêm o que ficaria marcado como sua iconografia: os ciprestes, os relógios, os espectros, as imagens duplicadas, os efeitos que enganam o olhar.

O público vai ter a chance de assistir aos filmes “O Cão Andaluz” (1929) e “A Idade do Ouro” (1930), de Dalí e Luís Buñuel, e “Quando Fala o Coração” (1945), de Alfred Hitchcock, que tiveram cenas de sonho desenhadas pelo pintor. Também será possível conhecer os desenhos feitos por ele para clássicos da literatura mundial, como uma edição de 1973 de “O Velho e o Mar”, de Hemingway, com gravuras a ponta-seca, e uma tiragem de 1969 de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, 12 guaches de inspiração onírica.

A mostra chega ao Dalí melancólico do fim da vida. Foi quando a curadora, Montse Aguer, diretora do Centro de Estudos Dalinianos, da fundação que leva o nome do pintor, começou a trabalhar com ele. Ela acredita que a persona do artista – extravagante, absurda, mística – atraia tanto quanto a obra. “As pessoas querem ver Dalí. Ele criou sua obra e construiu seu personagem, que são indissociáveis. Viveu o século 20 e abre as portas para o século 21.”

A escolha do mês da Copa para a abertura, durante o qual a cidade estará mais movimentada, pode inflar a visitação. Existe uma preocupação para não deixar que as salas fiquem cheias demais, já que a contemplação da obra detalhista do pintor exige tempo diante das obras. “Vale mais ficar uma hora na fila e ter tempo para ver tudo com calma”, diz o gerente geral do CCBB do Rio, Marcelo Mendonça.

A mostra celebra os 25 anos do centro cultural, que entre 2012 e 2013 atraiu 8 mil pessoas por dia, com uma grande coleção de impressionistas vinda do museu parisiense D’Orsay. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

SALVADOR DALÍ

CCBB-RJ. Rua Primeiro de Março 66, Cetro, Rio de Janeiro, (21) 3808-2020. De 4ª a 2ª, das 9 h às 21 h. Grátis. Até 22/9.

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