Magia em excesso

O horário das seis da Globo parece estar enfeitiçado com O Profeta. A emissora tem apostado cada vez mais em protagonistas que ainda engatinham na profissão, como Paola Oliveira, que estreou há pouco mais de um ano na tevê com Belíssima. Isso sem falar em entregar à Carol Castro, que até pouco tempo apareceu como a insinuante Gracinha em Mulheres Apaixonadas, a responsabilidade de uma vilã de Ivani Ribeiro. Mesmo que o texto tenha a supervisão de Walcyr Carrasco, o que o torna mais leve e engraçado, os personagens deixam de ter uma dimensão dramática que os atores parecem não alcançar. O mais impressionante é o excesso de ingenuidade na trama, que não condiz com a sagacidade dos tempos em que vivemos. Obviamente que a história se passa na década de 50, recheada de mitos hollywoodianos e a influência do ?american way of life?. Mas retratar os anos dourados através de personagens pueris e muitas vezes superficiais é ignorar os vastos caminhos que o período oferece dramaturgicamente.

Falsos videntes, simpatias e pedidos a estrelas cadentes que são retratados na trama, por exemplo, podem até ser uma espécie de pausa na impactante velocidade das outras novelas. Mas quando se abusa do excesso de fantasia em alguns personagens, transborda o caldeirão de uma trama onde só faltam aparecer duendes e bruxinhas sobrevoando a cidade cenográfica. Para criar o clima glamouroso e ?encantado? bastaria uma cuidadosa recriação de época. A competente produção de arte de Isabela Sá e Márcia Rossi e o bem-acabado figurino de Sônia Soares e Paulo Lóis já dariam conta do recado. Isso sem falar na aprimorada composição de alguns atores, como Fernanda Souza, que demonstra um visível crescimento como atriz com a furiosa comilona Carola.

Outra atriz que surpreende é Juliana Baroni. Ela estreou na tevê como paquita – uma bonequinha dançante ao lado de Xuxa – e pela primeira vez demonstra um amadurecimento na pele da hilariante Mirian, uma sedutora interesseira que transcende a mera caricatura. Em contrapartida, alguns atores se repetem novela após novela. Maurício Mattar, por exemplo, está inexpressivo na pele de Henrique. Thiago Fragoso, por sua vez, como o protagonista Marcos, é outro que não disse a que veio. O melhor que consegue em interpretação é apertar os olhinhos nas cenas de visões ou ao negar sua ?mediunidade?.

A impressão que se tem é que a novela, que conta com média de 31 pontos e 52% de participação, está perdida. Parece não ter um fio condutor na edição. De uma cena para outra, algumas vezes falta um ?link?, uma ponte que mantenha a atenção do público. Isso faz com que O Profeta se aproxime das tramas mexicanas, exibidas e adaptadas por emissoras com menor refinamento dramatúrgico. O resultado oscila entre a pieguice e a falta de qualidade artística.

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