Los Angeles espera em festa entrega do Oscar

Definitivamente, Los Angeles, e não Paris, é uma festa. Clones de personagens famosos espalhados pelas ruas, filas para ver a autêntica estatueta de um homem careca de braços cruzados, avenidas interditadas, apostas feitas nas esquinas – a capital do cinema justifica sua condição com a entrega do Oscar neste domingo à noite, festa que, apostam os organizadores, será vista por mais de um bilhão de pessoas ao redor do planeta, via tevê.

Festa que deverá consagrar ainda o filme O Segredo de Brokeback Mountain, com oito indicações e favorito como melhor produção do ano, além de diretor (Ang Lee) e roteiro adaptado. O amor entre dois caubóis que garantem não ser gays mesmo transando numa barraca, porém, já não provoca mais tantos ?oh? na platéia de Los Angeles, mais disposta a disparar uma série de ?há há há?. Sim, meses depois do respeito que cercou seus primeiros dias de exibição, o filme agora é alvo de piadas e sátiras, tanto no papel dos jornais como no mundo virtual da internet.

"A brincadeira do momento é trocar e-mails com versões engraçadas do filme", conta Barbara Wallace, gerente de um hotel na Hollywood Boulevard, enquanto mostra à reportagem da AE um curta chamado Bro Back Mountain, sobre o amor entre dois enormes sujeitos de cor, ou, como se diz por aqui, dois afro-americanos relativamente acima do peso. "Não é desrespeito, apenas uma diversão inocente." Segundo ela, há versões ainda que brincam com outros filmes como De Volta para o Futuro (chamado Brokeback to the Future) e Top Gun, que não deve agradar Tom Cruise.

As risadas cessam, porém, quando a discussão chega ao filme Crash – No Limite. Favorito entre os concorrentes de melhor roteiro original, o longa de Paul Haggis provoca diferentes visões sobre o conceito de raça.

Para alguns, o conflito envolvendo brancos e negros comprova que a cidade tem habitantes de diferentes culturas que se entendem. Outros, porém, acreditam que as diferenças não foram resolvidas e continuam uma ferida aberta. A discussão chegou até o prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa, que, aliás, adorou o filme

Discussões à parte, a proximidade da entrega do Oscar agita a cidade por motivos mais divertidos. A fila para admirar as estatuetas, por exemplo, nunca diminui: ao lado do Kodak Theatre palco da festa de depois de amanhã, uma sala exibe os prêmios, protegidos por grossos vidros dos olhares cobiçosos. Resta o consolo de repetir o gesto famoso de se erguer um Oscar – uma réplica foi colocada em um pedestal em que as pessoas fazem outra fila para tirar fotos.

Os japoneses predominam, mas é possível ouvir pessoas falando em italiano, espanhol e até um língua muito familiar. "Não poderemos assistir a cerimônia de dentro do teatro, mas, só de estar próximo, já é a realização de um sonho", conta o arquiteto paulista Eduardo Medeiros, que veio a Los Angeles com a namorada afoita para fotografar qualquer coisa referente a cinema, especialmente para a cerimônia. "Quem sabe não conseguimos entrar em uma das festas depois da premiação?"

Pode ser, mas será uma façanha. A paranóia com segurança não poderia ser menor com um evento desta estatura, a ponto de dez ruas que rodeiam o teatro estarem bloqueadas para o trânsito a partir deste sábado. "A possibilidade de alguém tentar sabotar a cerimônia sempre existe, por isso cuidamos de todos os detalhes" disse o tenente Paul Vernon, porta-voz da polícia de Los Angeles.

Segundo ele, até um ataque terrorista com gás ou produtos químicos não está descartado, o que já deixa uma guarnição especializada do corpo de bombeiros de prontidão. O que os homens fardados não poderão evitar é a chuva, grande temor dos organizadores, que estenderam para uma hora o desfile de estrelas no tapete vermelho, antes da cerimônia. Até agora, porém, São Pedro tem se revelado um cinéfilo, pois o sol brilha tanto quanto a estatueta dourada.

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