Depois de publicar os consagrados catálogos raisonnés de Frans Post, Debret e Taunay, a Capivara Editora agora lança um novo e igualmente ambicioso projeto: o primeiro livro do gênero no País dedicado a um artista brasileiro contemporâneo.
Organizado por Pedro Corrêa do Lago, Vik Muniz, obra completa 1987-2009 faz, em 710 páginas, o registro integral da produção daquele que é hoje o nome brasileiro de maior projeção no mundo internacional das artes plásticas.
São 1600 imagens que ilustram cronologicamente e em detalhes as cerca de 1200 obras criadas pelo artista paulista desde o início de sua carreira, há 22 anos. A edição, de luxo, tem patrocínio do Banco Crédit Suisse e já está nas melhores livrarias.
Catálogos raisonnés são livros de referência para estudiosos e admiradores da obra de um artista. Tornaram-se tradição na Europa e Estados Unidos, mas por aqui ainda são produto raro. No Brasil, apenas Cândido Portinari (1903-1962) e Tarsila do Amaral (1886-1973) mereceram, postumamente, a honraria.
Isso se deve, em parte, à dificuldade em se fazer o levantamento iconográfico completo de toda a produção do artista e também ao longo tempo que a tarefa exige. No caso de Vik, Corrêa do Lago investiu mais de um ano em pesquisas.
“Foi realizado para este livro um esforço considerável de inventário de todos os seus primeiros trabalhos, alguns dos quais hoje perdidos ou destruídos, assim como das séries realizadas nos primeiros dez anos, cujo registro é às vezes imperfeito. Ainda assim, com o intenso empenho da equipe do estúdio Vik Muniz, no Brooklyn, e a colaboração de suas galerias ao redor do mundo, foi possível um levantamento completo da coleção sobrevivente que, esperamos, permitirá ao leitor uma visão abrangente da obra do artista e, ao especialista, uma consulta fácil a respeito das peças individuais ou das edições das séries de seu interesse. Para cada obra são fornecidos dados sobre as dimensões e as diferentes tiragens. O trabalho de Vik ganha muito em ser conhecido em seu conjunto, ainda que o extraordinário impacto individual de muitas de suas imagens já tenha bastado para torná-lo um dos artistas mais respeitados e populares da atualidade”, escreve o organizador no texto do prefácio.
Vik Muniz tem uma obra prolífica, multifacetada e em permanente evolução. Iniciou a carreira através da escultura e do desenho, mas logo migrou para a fotografia.
Em seu depoimento no catálogo, ele relembra: “Há muito tempo, a galeria onde expunha em Nova York contratou um fotógrafo profissional para documentar as esculturas e os objetos que eu havia produzido até então, com a finalidade de utilizar as imagens para os seus arquivos e para a difusão das obras. Essas fotos, que pareciam ir contra a natureza tridimensional e a dinâmica que procurava conferir aos meus objetos, acabaram por inspirar o meu trabalho por mais de duas décadas, provando para mim e para um grande público que documentação pode se transformar em uma forma de arte”.
Essa descoberta lhe possibilitou uma virada no seu modo de produção: ao fazer da fotografia o produto final de sua arte, saiu das peças únicas para a criação de séries e ampliou as técnicas nela utilizadas, com o uso de materiais pouco convencionais como açúcar, sucata, caviar, diamantes, lixo e poeira.
Acabou assim por criar imagens que se tornaram ícones no início deste milênio, entre elas o famoso retrato de Jackson Pollock em chocolate, a Mona Lisa de pasta de amendoim e geléia e as divas do cinema em diamantes. Hoje, suas obras integram grandes coleções particulares no Brasil e no exterior e acervos de prestigiosos museus mundo afora.
Além de desenhos, esculturas e trabalhos em edição única, Vik Muniz, obra completa 1987-2009 tr,az as 57 séries executadas pelo artista. Reconhecidamente tão habilidoso com as palavras quanto na (re)criação de imagens (seu livro de ensaios, Reflex, escrito e lançado originalmente em inglês, virou referência), é o próprio Vik quem as explica, em vários textos introdutórios ao longo do catálogo.
“Por mais de duas décadas procurei encontrar e estabelecer uma linguagem visual que, embora individual, pudesse ser compreendida por todos… Essa linguagem se tornou a melhor forma que encontrei para descrever realisticamente a beleza e a confusão do meu mundo feito de imagens. Esse processo trata invariavelmente de estabelecer conexões e paralelos entre a precisão da imagem técnica e a subjetividade nebulosa das imagens mentais. Este livro me força a analisar a minha própria produção pelos mesmos critérios com que lidei com imagens alheias -como uma memória coletiva, algo entre uma imagem e uma ideia. Não é sem temor que anseio ver essa vida de imagens, outrora tão confortavelmente impossível, aqui organizada, catalogada e transformada em história…”, escreve o artista em seu texto de apresentação. Para facilitar a consulta das obras, muitas delas originalmente batizadas em inglês, a publicação traz um índice bilíngue inglês-português.
Serviço
Vik Muniz, obra completa 1987-2009.
Catálogo raisonné com a obra completa do artista brasileiro Vik Muniz. Capivara Editora. 710 páginas. À venda nas livrarias, R$ 198,00.