Livreiro lança 6º livro ‘Dias de Colecionar Borboletas’

Tarde da noite. Luzes apagadas. Livraria vazia. Neste ambiente, José Carlos Honório, 46 anos, sente-se aconchegado, seguro e feliz. “Essa é a minha hora preferida. Sou uma pessoa de sorte. Tenho muitos livros na minha vida, muitas histórias para contar”, diz. Zé, como é conhecido por amigos e clientes, trabalha há 27 anos na Livraria Cultura da Av. Paulista, em São Paulo, acumulando as funções de vendedor e responsável pelo acervo da loja. Agora, com o lançamento de “Dias de Colecionar Borboletas”, seu sexto livro, ele volta a ocupar espaço na prateleira. O livreiro é poeta.

E com sua obra recém-lançada em mãos, Zé lembra de quando um certo marcador de páginas caiu do livro de uma amiga, numa época em que ele ainda trabalhava como office-boy na GM. “Eu achei aquele marcador lindo e perguntei onde ela tinha conseguido. Era da Cultura. Eu juro que, apesar de já gostar de livros, eu não conhecia a livraria”, fala. “Até então, minha relação com livrarias era uma coisa quase religiosa. Na minha infância, entrar em uma papelaria para comprar livros, era quase como ir à missa”. Foi no dia 19 de abril de 1983 que ele começaria a trabalhar na livraria – contratado pelo próprio Pedro Herz (que é diretor geral da Cultura). “Foi a coisa mais incrível que aconteceu na minha vida”.

Ele, que já tinha uma quedinha por literatura, começou a ler Clarice Lispector (“A Paixão Segundo G.H”), Guimarães Rosa (“Grande Sertão: Veredas”) e Schopenhauer (“O Mundo Como Vontade e Representação”). Com essa bagagem, tornou-se um vendedor diferenciado, capaz de falar com amor e conhecimento de vários títulos, atuando mais como um conselheiro que um vendedor. Não demorou para que Zé também se transformasse no preferido de clientes especiais. O escritor Caio Fernando Abreu, por exemplo, virou seu amigo e principal influência literária. Tanto que Caio escreveu o prefácio do primeiro livro de Zé, Em Breve Outra Noite (1986). Até hoje, gente como Silvio de Abreu, Beatriz Segall, Gloria Kalil, Marília Gabriela e escritores dos mais diversos matizes preferem ser atendidos por ele. “Faço mais que clientes. Faço amigos”, diz.

Muita gente pergunta a Zé como alguém como ele, que conhece tão bem o mercado editorial, insiste em publicar poesia, gênero pouco procurado por leitores. O poeta tem uma ótima resposta para esse questionamento: “Quem tem de se preocupar com a questão comercial são as editoras. O poeta tem de continuar fazendo poesia, independentemente do número de pessoas que vão ler seu trabalho ou do que vai ou não vender”.

Se tivesse de escrever suas memórias na livraria em que trabalha, Zé destacaria um momento. “Os olhos do José Saramago (ele viu o escritor lusitano em 2008, num evento na Cultura). Nem cheguei a falar com ele, mas os olhos do Saramago eram muito expressivos”. Além disso, Zé tem um orgulho imenso de ter atendido gerações de leitores. “Tenho clientes que eu vi crescer. Gente que vinha com os pais e agora me procura para indicar livros. Isso não tem preço”. As informações são do Jornal da Tarde.

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