Lina Chamie e Domingos Oliveira exibem longas em Gramado

E o 41.º Festival de Gramado vai chegando à reta final. Nesta sexta-feira passam os últimos filmes concorrentes – o brasileiro “A Coleção Invisível”, de Bernard Attal, e o latino “Cazando Luciérnagas”, do colombiano Roberto Flores Prieto. A entrega dos Kikitos será neste sábado à noite. Já se fazem apostas. Quem leva os troféus para os melhores de 2013?

Na quarta à noite foram exibidos dois longas nacionais – “Os Amigos”, de Lina Chamie, e a animação “Até Que a Sbórnia nos Separe”, de Otto Guerra, que virou o xodó de uma ala (jovem) da crítica. “Os Amigos” não deixa de dar um testemunho geracional, como “O Primeiro Dia de Um Ano Qualquer”, de Domingos Oliveira, que passou na quinta. O filme de Domingos é a melhor coisa que o diretor fez nos últimos anos. Um filme entre amigos, como o de Lina, filmado com a cumplicidade do elenco, na casa serrana de Maitê Proença, que faz um dos papéis.

“Os Amigos” parte de uma aparente – e enganosa – simplicidade. É um filme que tem, como se diz, camadas. O protagonista é Theo, interpretado por Marco Ricca, e Lina Chamie escreveu o filme para ele. Theo é arquiteto e, neste dia específico, vai ao enterro do amigo de infância. Isso o leva a viajar no tempo – e nas lembranças. Numa cena, ele fala com a amiga Dira Paes, que está no zoológico com as crianças. A narrativa se abre em arco – existe uma representação infantil (da odisseia de Ulisses), o personagem fica preso no caos urbano, o tráfego de São Paulo (como o próprio Marco Ricca já ficou preso no longa anterior de Lina, “A Via Láctea”), etc.

Sem nenhum cinismo, pode-se dizer que o tráfego pesado reitera “A Via Láctea” e que não há nada muito novo nem muito atraente na representação das angústias de Theo e seus amigos. Os humanos não compõem a parte mais interessante de “Os Amigos”, exceto pelos breves momentos em que Teka Romualdo que faz a doméstica, Julieta, está em cena. O que realmente parece novo em “Os Amigos” é o olhar de Lina sobre os animais – as girafas, e a produtora dela chama-se Girafa, os macacos – e sua relação com os humanos, na cena em que Theo, sentado no restaurante, observa as mulheres. São cenas deslumbrantes em que Lina, a diretora que melhor utiliza a música clássica no cinema brasileiro, vale-se da suíte “O Carnaval dos Animais”, de Saint Saenz, que também serve de fundo para a vinheta do Festival de Cannes.

Se “Os Amigos” decepcionou, os curtas fizeram desabrochar outra joia. Na véspera, Marcos Pimentel, com “Sanã”, havia apresentado o melhor filme do festival, independentemente de formato – mas “A Bruta Flor do Querer”, de Andradina Azevedo e Dida Andrade, face à aridez da paisagem da competição, só tem feito crescer na imaginação. A pérola de quarta foi “Os Filmes Estão Vivos”, do realizador gaúcho Fabiano de Souza, com seu pai, o crítico Enéas de Souza.

Enéas é um dos grandes críticos do País – já era nos anos 1960, mas depois deu uma parada. Voltou. Pai e filho foram para Paris, a capital da cinefilia. O pai vê filmes- e imagens são pirateadas rapidamente no escurinho das salas de arte/ensaio. Na sequência, Fabiano e Enéas discutem o que viram entre uma taça e outra, e quem filma é o codiretor Milton do Prado. Feito em digital, com uma câmera minúscula, o filme é uma festa de cinema. Os cinéfilos vão gostar mais, claro, mas esse raro encontro de pai e filho é de uma beleza singular. Enéas e Fabiano falam de cinema para entender a vida. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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