Krajcberg quer usar Curitiba para gritar ao mundo

O artista plástico Frans Krajcberg, que na noite de terça-feira lançou em Curitiba o livro A natureza de Krajcberg, disse que quer que o espaço que leva seu nome no Jardim Botânico seja um grito de alerta contra a destruição da natureza.

"É de Curitiba que deve surgir a consciência contra a destruição do meio ambiente. Antes, era a guerra do homem contra o homem; hoje, é o homem contra a natureza", afirmou Krajcberg. "Este espaço, agora, vai começar a mostrar meu grito de basta à destruição, principalmente contra a destruição que acontece aqui no Brasil."

O prefeito em exercício Luciano Ducci, que recebeu do artista o termo definitivo de doação das 114 obras que compõem o Espaço Cultural Frans Krajcberg, disse que é uma honra para a cidade ter sido escolhida pelo artista para falar ao mundo. "São obras de imenso valor artístico e intelectual que estão expostas aqui. Este é um espaço importante para o país e para o planeta", afirmou Ducci. "Curitiba vai dar a este espaço o tratamento que ele merece. Vamos unir nossa voz ao grito de Krajcberg."

Ducci também anunciou a utilização do Espaço Krajcberg na Conferência Mundial da ONU sobre Biodiversidade e Biossegurança, que vai ser realizada em Curitiba em março do ano que vem. "É um evento de importância internacional, com discussões fundamentais sobre a questão ambiental. Esta galeria terá uma participação especial na Conferência, e desde já contamos com a presença de Frans Krajcberg com sua mensagem forte e edificante."

As fotos reunidas no livro A Natureza de Krajcberg (editora GB Arte) fazem parte do arquivo pessoal de Krajcberg e, em mais de 90% das imagens, mostram retratos da beleza das matas brasileiras. Em formato de folha, feito a partir de um projeto de Márcia Barrozo do Amaral, o livro traz também citações de personalidades como Claude Lévi-Strauss, Chico Mendes, Leonardo Boff e Kofi Anan sobre a natureza e a importância da preservação.

Krajcberg também doou ao espaço uma coleção de 18 fotografias das matas brasileiras, que formam a mostra Fotos de Krajcberg e pode ser visitada diariamente, das 9h às 18h.

Inaugurado em 2003, o Espaço Frans Krajcberg, administrado pela Fundação Cultural de Curitiba, tem em exposição permanente 114 esculturas de grande porte, feitas com matéria-prima que Krajcberg retira da natureza para as suas criações, sempre no sentido de despertar a indignação contra as ações devastadoras do homem.

A galeria no Jardim Botânico é o principal espaço no mundo de exposição do trabalho de Krajcberg. Entre as obras que compõem o acervo do espaço estão esculturas, relevos e fotografias, além de vídeos, textos e publicações. A programação envolve, além da exposição, mostras de vídeo, debates, seminários e outras ações que visem à educação ambiental e à discussão sobre artes visuais.

As obras estão subdivididas em grupos e classificadas pelo artista conforme as características do material ? palmas, árvores para cima, cipós, grandes volumes, mangue, queimadas, bolas, palitos e cascas. Os troncos de madeira queimada, retirados diretamente dos locais onde a depredação se fez presente, são os que mais identificam a sua obra, embora a preocupação com o meio ambiente tenha permeado toda a sua trajetória artística.

Para Paulino Viapiana, presidente da Fundação Cultural de Curitiba, "Krajcberg é um incansável lutador pela preservação da natureza; um exemplo para o mundo. Este espaço em Curitiba tem um papel fundamental na conscientização sobre a necessidade de preservar o meio ambiente."

Com esse objetivo, a Fundação Cultural realiza no Espaço Krajcberg um programa de monitorias com alunos das escolas públicas e particulares. A escola interessada pode agendar a monitoria (tel. 41 3218-2419), que consiste em uma hora e meia de atividades: visita à exposição, exibição de um vídeo sobre Frans Krajcberg e atividades de educação artística relacionadas ao tema.

Frans Krajcberg nasceu em abril de 1921 na cidade de Kozienice, Polônia. Filho de uma família de comerciantes judeus desaparecida em 1945 no Holocausto, veio para o Brasil em 1948 e naturalizou-se brasileiro em 1954. Foi ainda na Europa, durante a II Guerra Mundial, que começou a pintar e a se interessar pela arte. Circulou, como membro de grupos de resistência, pela Polônia, Romênia e Rússia e, após a guerra, seguiu para Alemanha e depois para a França, com o objetivo de estudar arte.Sem trabalho e sem possibilidades de estudar, Krajcberg partiu para o Brasil.

No Brasil, Krajcberg também enfrentou dificuldades. Do Rio de Janeiro foi para São Paulo e de lá veio para o interior do Paraná, para trabalhar como desenhista de uma fábrica da família Klabin, na Fazenda Monte Alegre, em Telêmaco Borba. Sua estada no Paraná foi decisiva para os rumos que sua arte tomou a partir de então. Nesse período, na onda expansionista dos anos 50, Krajcberg constata que, ao seu redor, as árvores começam a ser queimadas para dar lugar a indústrias e à cafeicultura. Rio de Janeiro, Paris, Minas Gerais foram novamente pontos de parada de Krajcberg, que cada vez mais se acercou do ambientalismo, tanto do ponto de vista conceitual quanto estético.

Em 1972, Krajcberg fixou-se definitivamente em Nova Viçosa. Próximo ao mar, o artista passou a recolher do mangue e da floresta os materiais com que trabalha. Três expedições à Amazônia, em 1976, 1977 e 1978, reforçaram ainda mais suas convicções. Uma exposição em Paris, com obras desse período, foram a porta para o sucesso. Suas obras ganharam o mundo e hoje estão expostas em museus do Rio de Janeiro, São Paulo, Paris, New York, Buenos Aires, e em coleções particulares, brasileiras e estrangeiras.

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