Ken Parker: Missão cumprida, a lenda continua

Ken Parker foi criado em 1974 para estrelar uma única edição. Fora encomendado pelo editor italiano Sergio Bonelli ao jovem argumentista Giancarlo Berardi, entusiasmado com o sucesso alcançado pelo ranger Tex Willer, um campeão de vendagem, em todo o mundo, por mais de 25 anos. Queria uma nova aventura ambientada no Velho Oeste norte-americano, mas que contivesse algo mais. Além da ação e do heroísmo dos antigos pioneiros, talvez um pouco de humor, maior realismo e até mesmo algumas pitadas de poesia. Sem perder de vista, contudo, aquela velha mensagem reacionária, que garantiu a preferência do leitor pelo gênero, como certa ingenuidade, o retorno à natureza, a fronteira sem limites e a bravura dos aventureiros.

– O “Oeste” é apenas uma convenção que, através da metáfora do passado, nos fala do presente, satisfazendo a nossa necessidade de identificação com modelos atuais – justificaria, mais tarde, Bonelli.

Mas fez questão de complentar:

– Durante muitos anos, por trás da ação pela ação e do heroísmo retórico, o “Oeste” selou uma moral conservadora, tecida no racismo e baseada numa assimilação passiva dos mitos e dos valores exportados pela civilização norte-americana. Esse gênero, porém, foi se renovando e, a partir dos anos setenta, redescobriu a história, a geografia, a política e a economia que lhe eram próprias, transformando-se, sobretudo, em um instrumento de reflexão e de confronto social.

Para ilustrar a edição especial, Sergio Bonelli convocou outro jovem, o artista Ivo Milazzo, que já trabalhara com Berardi em Tarzan, Diabolik e em alguns números de Tex. Estava formada uma das mais notáveis parcerias do universo dos quadrinhos. E o sucesso foi tão retumbante que Ken Parker ganhou uma série independente e um título próprio em junho de 1977, pela Editoriale Cepim (atual Sergio Bonelli Editore).

A caminhada

De 1977 a 1984, o jovem batedor louro Kenneth Parker, às vezes caçador de peles, outras vezes intransigente defensor da natureza e dos fracos e oprimidos, passeou com elegância e generosidade pelas pradarias do Velho Oeste e esteve presente às geladas montanhas do norte dos EUA. Foram 59 episódios, seguidos de aventuras avulsas e edições especiais.

Em 1989, toda a saga, então intitulada Serie Oro, foi republicada pela Parker Editore, sendo acrescentadas três outras edições, com as histórias publicadas originalmente na série Collana West, totalizando 62 álbuns.

Em 1992, chegou às bancas italianas Ken Parker Magazine, com aventuras inéditas do herói, que duraria até 1996, com o n.º 36, já então outra vez sob o comando de Sergio Bonelli, que assumiu as edições a partir do n.º 19. De 1996 a 1998, foram ainda publicadas quatro edições semestrais (Ken Parker Speciale), em álbuns de 180 páginas.

No Brasil

Ken Parker chegou ao Brasil em novembro de 1978, publicado pela extinta Editora Vecchi, durando, essa primeira fase, até 1983. Foram 53 edições mensais. Em 1990, a recém-inaugurada Editora Best News tentou retornar o personagem. Mas ficou apenas em duas edições – os n.ºs. 54 e 55 da série original.

Posteriormente, em 1994, a Editora Ensaio publicou um álbum especial, de luxo e em cores, com as histórias Os Cervos (primeiro episódio do ciclo Il Respiro e il Sogno) e Um Hálito de Gelo (da série Collana West). Em 1999, Wagner Augusto, professor de comunicação social e diretor do Clube dos Quadrinhos, editou uma minissérie em duas edições com a aventura intitulada Onde Morrem os Titãs. Um ano depois, em junho de 2000, o mesmo editor ofereceu ao público brasileiro o álbum Um Príncipe para Norma, pequena obra-prima, com 128 páginas, baseada na peça Hamlet, de Shakespeare.

A esta altura, um novo selo começava a se firmar no mercado nacional de quadrinhos: o da Mythos, comandada por Dorival Vitor Lopes e Helcio de Carvalho. A editora, que já retomara as aventuras de Tex, quando este deixou de ser publicado pela Globo, surpreendeu os fãs de Parker com o lançamento de nova revistinha estrelada pelo herói.

A idéia inicial era a publicação de apenas uma minisérie de três edições, ainda inédita para os leitores brasileiros. Fora o combinado com os autores, dois admiradores confessos do Brasil. Só que as três edições acabaram acrescidas de outras quinze. A de nº 18, datada de maio e ainda nos jornaleiros, é o derradeiro número da Ken Parker Collezione. Traz uma bela história de 270 páginas, no total, na qual Parker narra a sua participação na odisséia de uma grande caravana de fazendeiros e comerciantes, por ele conduzida, que saiu de Ohio para ir se estabelecer no então longínquo território de Montana. O original é datado de 1997 e tem, como sempre, a assinatura de Giancarlo Berardi. Os desenhos são do genial José Ortiz.

Com A Caravana Donaver – Parte Final a Mythos Editora dá por cumprida a sua missão com Ken Parker. Restam ainda inéditos para os brasileiros os n.ºs 56 a 59 da primeira série e as quatro edições especiais de 180 páginas. Estas últimas ainda poderão vir a ser editadas pela mesma Mythos, dependendo de acordo com Berardi & Milazzo.

Ação continua

Berardi e Milazzo atribuem a interrupção da saga à dificuldade de conseguir manter o binômio qualidade e quantidade em níveis que pudessem considerar satisfatórios. Os leitores brasileiros, no entanto, não precisarão lamentar a ausência de Ken Parker. Desde meados de 2000, Wagner Augusto vem reeditando, através da Tendência Editorial, toda a Serie Oro, em primorosas edições produzidas por Formatro Comunicação, de São Paulo, com lombada costurada e traduções revisadas por Júlio Schneider – certamente o maior especialista em Tex Willer e Ken Parker no Brasil -, publicadas no formato original (16 x 23cm), em papel e impressão de alta qualidade e capas cartonadas com orelhas.

A intenção de Wagner Augusto é relançar todos as 59 edições, incluindo aquelas ainda inéditas no Brasil (A Propósito de Jóias e Trapaças, O Sicário, Greve e Os Garotos de Donovan). Os lançamentos têm sido periódicos, sem data certa prevista, de conformidade com a tendência do mercado.

A propósito, acabam de sair do forno os n.ºs. 9 (Caçada no Mar), 10 (Terras Brancas), 11 (A Nação dos Homens) e 12 (A Balada de Pat O’Shane). Como a circulação é diferenciada, os interessados deverão procurá-los, em Curitiba, na Livraria do Chain (na Rua Duque de Caxias) ou na gibeteria Itiban (na Silva Jardim). Nesta última, caso não tenha a edição desejada, o Francisco dará um jeito.

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