José Lins do Rego sentia a obrigação de escrever

José Lins do Rego produziu não apenas obras que foram marco na literatura do País – vide Fogo morto, Riacho doce e Menino de engenho – como retratou como poucos a vida no Brasil das décadas de 30, 40 e 50. Lêdo Ivo, que fez a seleção dos textos para O Cravo de Mozart é eterno, lembra: “José Lins do Rego escrevia diariamente. A sua caligrafia, uma sucessão de garranchos, era a aflição e o terror dos linotipistas; e de tal modo que havia n?O Globo um linotipista especializado em decifrar-lhe os hieróglifos. (…) Nele, a obrigação de escrever era suplantada pelo prazer de escrever. O artigo do jornal, sua primeira manifestação literária, foi também a última. Nos dias finais, num leito de hospital, ele me ditava crônicas ou pequenos ensaios, a sua prosa de adeus – de um adeus que ele, aliás, se recusava a dar com o seu grande guloso amor pela vida e o medo de morrer que o acompanhava desde a infância”.

Assim é que O cravo de Mozart é eterno traz uma seleta da prosa arguta e saborosa do escritor e jornalista José Lins do Rego. O livro divide-se em quatro partes: No reino da prosa o leitor encontrará O mestre Graciliano, Gilberto Freyre, Proust e o dinheiro e O busto de Graça Aranha, entre outros textos; Notas de viagem, como o título já diz, leva o leitor às experiências de Lins do Rego pelo mundo (França fagueira, Atravessando a Suécia, Na Dinamarca, Terras e gentes de Portugal, Andando pela Itália, Gregos e troianos); Criatura e paisagens fala do Brasil, onde o autor diz que No Brasil também se morre de fome ou Eu não vi o sertanejo de Euclides. A última parte do livro, Entre poetas, pintores e um músico, José Lins do Rego nos traz retratos inspirados de Manuel Bandeira, Cândido Portinari, Augusto dos Anjos, Cícero Dias e o próprio Lêdo Ivo – que, tantos anos depois, daria forma a O Cravo de Mozart é eterno.

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