Indo além das aparências

tv11.jpgDensidade. Essa é a palavra de ordem no atual momento de vida de Paula Burlamaqui. Os estereótipos de sempre continuam perseguindo a atriz, que interpreta a Islene em América. Especialmente o tipo ?boazuda? e o jeitão suburbano que já estiveram presentes em papéis como a Paulinha, de Barriga de Aluguel, e a Rose, de Explode Coração. Mas a responsabilidade de viver a mãe de uma menina cega confere à atual personagem uma carga dramática nunca antes experimentada por ela. ?Eu nunca tive uma oportunidade na televisão igual à que eu estou tendo agora, de um personagem com história própria, com dois conflitos?, comemora a atriz, referindo-se também à atribulada relação de Islene com Feitosa, papel de Aílton Graça.

A seriedade do novo trabalho teve, no começo, uma dificuldade que Paula não esperava. Isso porque a atriz logo percebeu a importância que a Islene teria para muita gente. ?No início eu fiquei um pouco assustada, quando vi que era um personagem com uma grande responsabilidade social?, confessa. Para se preparar adequadamente para um personagem que vive tamanho drama pessoal a atriz não poupou esforços. Durante quatro meses, ela freqüentou o Instituto Benjamin Constant, dedicado ao tratamento e apoio a pessoas com deficiências visuais, no Rio, onde entrou em contato com mulheres que passam por dificuldades semelhantes às de Islene. ?Eu procurei conhecer as mães das meninas para saber o que elas tinham passado, como elas faziam e como foi a reação de cada uma delas?, conta.

Como se não bastassem os problemas por que passa a mãe de uma menina cega, no caso, a Flor, papel de Bruna Marquezine, sua personagem vive uma conflituosa história de amor com Feitosa, um tipo bonachão que dá ouvidos demais à mãe dominadora, a Dona Diva, de Neuza Borges. As constantes brigas entre Islene e Feitosa, aliás, têm sido um dos pontos altos da novela, o que acaba dando ainda mais destaque para a atriz. Feliz com o sucesso do casal, ela, apesar de torcer para que eles ainda se desentendam por mais algum tempo, perdoa os impulsos desenfreados de ambos. ?Eles são apaixonados. É amor de verdade, tesão, tudo. Só que o Feitosa é um homem puro, que não consegue perceber a maldade da mãe e se deixa levar?, acredita.

?Burlamáquina?

Tantos conflitos e um personagem com maior importância na trama acabaram pegando de surpresa a atriz, acostumada a papéis secundários. Ela confessa que sequer foi uma opção. ?Não foi uma questão de escolha, mas de oportunidade mesmo?, admite. O reconhecimento até certo ponto tardio, no entanto, não incomoda Paula. Tampouco a atriz reclama do estilo ?mulherão? que porventura possa ter contribuído para conduzir sua carreira para papéis que exigiam o estereótipo. Ela assume sem problemas a condição de ?Burlamáquina?, apelido a ela conferido no final dos anos 80s, quando surgiu como Garota do Fantástico. ?Não tem jeito. Eu sou loura, sou enorme, tenho a bunda grande, sou toda musculosa. Eles vão me chamar pra fazer o quê? Uma feiosa?! Eu nunca tive problema com isso?, relaxa.

Tão ou mais importante que a projeção que sua personagem conseguiu foi a experiência de vida que a atriz adquiriu no desenvolvimento do trabalho. A proximidade com pessoas com deficiências visuais de diferentes graus deu a Paula uma nova impressão da vida. A vivência especialmente com a menina Duda, também presente na novela, e sua mãe Selma foi tão profunda que a atriz considera que tenha sido mais que um mero laboratório para um papel. Por diferentes motivos, a Islene é, desde já, um divisor de águas na carreira e na vida dela. ?Eu acho que minha vida é muito boa. Acho que a gente reclama de barriga cheia. Acho que a gente tem que acordar todos os dias pela manhã e agradecer a Deus porque a gente é perfeita?, ensina.

Atriz também já foi ?barraqueira?

O ciúme é um sentimento que, provado em grandes doses, pode levar qualquer pessoa à beira da loucura. Que o diga a ?barraqueira? Islene, com suas crises em função da relação mal-resolvida com o amado Feitosa. Paula Burlamaqui, contudo, atribui esse temperamento explosivo de sua personagem às necessidades que a vida lhe impôs. ?Eu não sou de briga, mas também não sou otária. Mas sou incapaz de fazer esses barracos, não tenho essa fúria que a Islene tem?, garante.

As certezas da atriz quanto a ter a ?fúria? da Islene, entretanto, se diluem quando ela recorda que já teve seus momentos de explosão. Paula acredita que as reações de uma pessoa em um relacionamento dependem muito da química com o parceiro. Apesar das eventuais conseqüências, a atriz acha que essas relações intensas e muitas vezes intempestivas, como a de Islene e Feitosa, são as melhores. ?Já fiz loucuras. Namorei um cara que me fez ir para a rua procurar por ele e jogar tijolos nos carros. Depois que passou, eu pensei que jamais faria aquilo?, entrega.

Mas o que passou, passou, e Paula garante que é uma pessoa tranqüila. A atração pela loucura, porém, ultrapassa os limites das relações afetivas. A tal ponto que a atriz alimenta o desejo de interpretar uma personagem histórica conhecida tanto por sua força quanto por sua proximidade com a insanidade: a mártir francesa Joana D?Arc. ?Eu tenho muita vontade de fazer a Joana D?Arc no teatro. Eu acho que ela foi uma mulher… Uma heroína, na época dela. Quem sabe, né??, sonha.

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