Gramática e ensino de língua

Antes de falarmos de gramática e ensino de língua na disciplina de Língua Portuguesa, é necessário abordar a concepção que se tem de gramática e a concepção que se tem de língua.

Pensa-se em gramática, na maioria das vezes, como o “local” onde estão guardados os conceitos de língua e de sua correta utilização. Conceito que é imposto na escola e reafirmado pela mídia, quando conhecemos e convivemos com normalizações de uso de língua pela gramática escolar (normativa), e por alguns veículos de comunicação quando o assunto é “certo” e “errado” em língua.

Entretanto, esse conceito está um pouco afastado da realidade, pois deixa de ser verdadeiro quando o assunto é língua real necessária ao uso prático. Conceito, ainda, que esbarra nas inúmeras dificuldades que professores de língua têm ao ensinar o uso desta língua guardada na gramática para seus alunos utilizarem-se dela como veículo de comunicação real e que possibilite atingir objetivos dos mais variados em seus textos escritos ou falados.

Diz-se que para comunicar-se em língua padrão deve-se seguir as normas ditadas pela gramática tradicional, prescritas como possíveis de fazer comunicar com mais correção, como possibilidade mais adequada de patrocinar uma comunicação efetivamente vitoriosa (que seria aquela que atinge o objetivo de comunicar adequadamente o que se pretende, fazer comum um pensamento…). Entretanto, essa língua padrão não parece muitas vezes guardada nas gramáticas disponíveis no mercado, já que é uma língua em uso freqüente em jornais, revistas e em textos utilizados para expor informações, orientações… nos mais diversos veículos, e não uma língua efêmera e homogênea, como fazem acreditar os manuais de bom uso da língua.

Deve-se saber que gramática não se resume apenas em Gramática Normativa (veículo no qual se pretende prescrever normas de utilização de língua), gramática também é a estrutura de uma língua, a construção de fala que seus falantes aplicam para comunicarem-se entre si, e não se resume a normas impostas de utilização, mas sim estruturas de comunicação efetivamente real.

Língua é conceituada como um conjunto de signos e formas de combinar esses signos partilhados pelos membros de uma comunidade. É através da língua que os membros dessa comunidade se comunicam através da fala e através da escrita. Entretanto, muitas pessoas concebem língua como única, uniforme, homogênea, ignorando que no uso de seus falantes ela reflete a sociedade em que esses falantes vivem e sendo reflexo disso, varia conforme o meio, a época, a situação de uso… Não sendo assim, única, uniforme e homogênea como alguns querem e fazem crer.

Então, ao ensinar-se língua na escola tudo isso deve ser levado em consideração, observação sobre o uso que se faz da própria língua, a consciência de que ela tem suas variáveis, que em situações diversas modalidades diversas são utilizadas, conforme a necessidade que se tem. Que a língua não se resume a uma única variável, e que não está guardada em um único veículo. Que para aprender a utilizar melhor a própria língua, e não aprender a língua, é necessário percebê-la em suas diversas formas, fala, escrita; além das inúmeras possibilidades de uso na fala e na escrita.

Conscientizar-se da função que tem a língua e das suas possibilidades na comunicação é necessário; patrocinar essa experienciação é responsabilidade nossa, professores de Português.

Desmistificar o pensamento que não se sabe falar e escrever na própria língua é urgente, não conhecer uma variedade dela, a dita única, não é não conhecer a própria língua. Perceber a importância de cada variedade em cada situação, conforme a necessidade que se tem, entender que a língua permite inúmeras possibilidades é direito do aluno.

Rosana de Fátima Silveira Jammal

é professora de Português, especialista em lingüística.

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