Gilberto Gil defende Agência Nacional de Música

São Paulo – O ministro Gilberto Gil disse quinta-feira, em São Paulo, que estuda a possibilidade de iniciar estudos para a criação de uma Agência Nacional de Música, nos moldes da Agência Nacional de Cinema (Ancine). “Os novos suportes, a internet, o MP3, as novas formas de comercialização da música apontam para algo nesse sentido. Creio que isso ainda será necessário. Especialmente por causa da discussão sobre a propriedade intelectual”, afirmou. “Minha iniciativa pessoal de flexibilizar minha música na internet já reflete essa preocupação, é isso”, afirmou.

O ministro liberou para download parte de sua produção discográfica, após acordo com sua gravadora. Gil é de opinião favorável ao chamado “fair use”, uma “região” na internet livre das questões legalistas do copyright.

Gil foi a São Paulo para um seminário na USP, na quinta, e depois foi a uma sessão de autógrafos no saguão do Aeroporto de Congonhas, lançando o livro Gil 60 – Todas as Contas, de Bené Fonteles. Ontem, representaria o presidente Lula na Maratona da Juventude, encontro dos Metalúrgicos do ABC, e almoçaria com empresários na Fiesp.

O ministro demonstrou, pela primeira vez, certa impaciência com as questões do financiamento cultural no País. Falando sobre seu primeiro ano no ministério, Gil disse que sua pasta ainda enfrenta “problemas muito conhecidos por todos”, e o principal deles é a falta de recursos. “Enfrentamos uma máquina titubeante, arredia a qualquer grupo negro, refratária aos grupos representados por negros, e também trabalhadores inexperientes”, disse. Ainda assim, ponderou, têm havido avanços importantes e parte disso ele credita ao seu apelo pessoal. “O ministro é um ícone da arte popular do Brasil e isso carreia para o ministério uma visibilidade natural.”

Ele ainda comentou as saídas do governo do deputado Fernando Gabeira e de Oded Grajew. “É assim mesmo. Um grupo chega ao poder com expectativas e o PT chegou ao poder com expectativas ainda maiores que outros governos anteriores. Um ano depois, tem um desgaste natural, além de uma tentativa de reorganização. E agora ainda tem a reforma ministerial”, afirmou.

O ministro falou de dado do IBGE, no estudo revelado esta semana, que mostra que apenas 8% das cidades brasileiras têm salas de cinema. Disse que a inauguração de centros culturais do governo federal nas periferias das cidades vai ajudar a mudar a situação, com salas multiuso para cinema e teatro. Mas que essa é uma questão ainda a ser equacionada no governo Lula.

Gil defendeu que os negros e mestiços brasileiros “qualifiquem” sua representação no cinema nacional, mas negou que isso seja também a defesa de uma cota de tela exclusiva para diretores e atores negros. Disse que a cinematografia brasileira dá espaço, em filmes como Cidade de Deus, Uma Onda no Ar, Aurélia Schwarzenêga, Carandiru e em seriados como Turma do Gueto e Cidade dos Homens. “A questão é saber se estamos apenas diante de uma necessidade de incorporação, pelo mercado, de um contingente maior de consumidores… Ou se há algo mais no ar”, ponderou.

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