Fontes de inspiração de Maria Bethânia

d81.jpgSe você não soubesse do nome do diretor de Maria Bethânia – música é perfume poderia pensar que se trata de um brasileiro nato, tamanha a intimidade e o seu encanto com a arte da cantora. Mas depois a gente se lembra de como os europeus se interessam pela música brasileira (lembram de Pierre Barouh, Henri Salvador, Michel Legrand?) e acha a coisa mais natural do mundo que o franco-suíço Georges Gachot tenha feito um filme tão belo e amoroso sobre a brasileira Maria Bethânia.

São Paulo (AE) – Bethânia justifica todo esse encanto. Quem já a viu sobre um palco sabe do que é capaz. Sabe do clima de magia que ela consegue impor, transformando um mero show musical em uma cerimônia, algo próximo do sagrado. Não interessa que haja gente de maus bofes para fazer restrições ao repertório, à qualidade vocal, ao hábito de recitar poemas em cena. Esse tipo de pessoa se apega a detalhes e esquece o essencial. Falando deles, Augusto de Campos dizia que são críticos que não iluminam e nem se deixam iluminar. Enfim, não gostam de arte – gostam de falar mal da arte, o que é uma paixão de ordem muito diferente.

Mas enfim, o que se vê neste documentário testemunha a compreensão que Gachot obteve do trabalho de Maria Bethânia e de suas fontes de inspiração. De um lado, o seu profundo enraizamento em sua Santo Amaro da Purificação, por isso algumas cenas têm de ser feitas lá, no Recôncavo Baiano, inclusive com a mãe, Dona Canô. Por outro, a tensão contrária, que a leva a sair de Santo Amaro, ir a Salvador, ao Rio, ao mundo. Esse projeto que procura contemplar o local e o internacional é comum a todo o grupo baiano, do qual ela fazia parte ainda nos anos 60s.

Recentemente, outro membro daquela turma, o ministro da Cultura Gilberto Gil, usou a expressão ?glocalização? para expressar esse desejo íntimo da Tropicália: somar o local com o global.

Projeto mais fácil de levar quando se exerce uma arte como a música, que pode ser lida, sentida e fruída em qualquer idioma, como Gachot sentiu e por isso tentou compreender. Assim Maria Bethânia – música é perfume é, também, um documentário sobre o processo de criação, que tenta informar mas também entender por qual conjunção de fatores aquela pessoa é tão boa naquilo que faz. E isso significa entender o sentido da música para Bethânia. Mais do que por palavras, é por seu próprio relacionamento com sua arte, que se fica sabendo que, para ela, a música é uma porta para o sagrado. Ela nos deixa entrever uma fresta dessa passagem, a cada vez que pisa um palco para cantar.

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