Fonseca retorna ao gênero policial

Arquivo / O Estado

Depois de anos, Rubem Fonseca continua fiel a seu estilo, enscancarando de vez a escalada da violência que acontece no País.

São Paulo (AE) – Uma das cenas mais interessantes de Sin City – A Cidade do Pecado, belo mas incompreendido filme de Roberto Rodríguez, foi dirigida por um amigo do cineasta, Quentin Tarantino, e envolve uma conversa surreal entre dois personagens durante uma perseguição a carro. Apesar de transpirar sangue por todos os poros, os filmes de Tarantino preserva o bom humor. E, assim como ele, Rubem Fonseca diverte-se com o que faz.

O escritor que inaugurou a moderna literatura urbana no Brasil, ao revelar as entranhas da sociedade e antecipar a escalada de violência no País, continua fiel às suas convicções, como demonstra em Mandrake: A Bíblia e a Bengala (200 páginas, R$ 32) seu novo romance que a Companhia das Letras envia hoje para as livrarias, com uma tiragem inicial de 15 mil exemplares.

Trata-se do retorno de Fonseca ao policial, gênero que retomou o fôlego no Brasil quando ele passou a se dedicar com mais empenho, especialmente ao usar e abusar da temática da violência.

E volta ao contar novas aventuras de Mandrake, um alter ego sem grandes retoques de seu autor: ex-policial, advogado, erudito, obsessivo, paixão incontrolável por mulheres e até felinófilo.

Desta vez, o cínico advogado criminalista é levado a investigar dois casos insólitos. No primeiro, é procurado por uma linda colecionadora de livros raros que deseja descobrir o paradeiro de um amigo desaparecido.

No segundo caso, um de seus ex-clientes é assassinado em um crime quase perfeito. Só que a esposa da vítima é amante de Mandrake e a arma usada foi sua própria bengala de estoque, o que o torna um dos principais suspeitos.

Personagem

Na verdade, Mandrake é um velho conhecido dos adoradores de Fonseca. Sua primeira aparição aconteceu em Lúcia McCartney (1967), no conto ?O Seqüestro de F.A.? Reapareceu em Feliz Ano Novo (1975) na história intitulada ?Dia dos Namorados? e se tornou o protagonista do romance A Grande Arte (1983).

A última aparição ocorreu na novela E do Meio do Mundo Prostituto só Amores Guardei ao Meu Charuto (1997).

Mandrake: A Bíblia e a Bengala reúne duas aventuras do detetive que, apesar de pontos coincidentes, apresentam características distintas. Na primeira, o advogado/detetive, cujo nome é sugestivo não apenas pela referência ao herói mágico das histórias em quadrinhos, mas também por ser mandrágora, planta usada em feitiçarias na Antigüidade e Idade Média, investiga o furto de uma Bíblia rara, impressa por Gutenberg. E, na seguinte, a bengala de Mandrake o torna suspeito de um crime passional.

Como de hábito, as histórias de Fonseca empilham cadáveres, mas não escondem uma ironia incomparável.

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