Folclore nacional está nos planos de animador brasileiro

O brasileiro Airton Dittz é um animador incrível. Tão incrível que ele foi contratado para ser um dos responsáveis pela iluminação de uma das animações mais bem-sucedidas da história do cinema: Os Incríveis, da Disney/Pixar. Segundo Dittz, o grande desafio do filme foi reproduzir para a animação a figura humana, não apenas copiando as imagens, mas estilizando os traços como nos gibis.

E por que uma animação sobre super-heróis? ?Tivemos vontade de fazer uma história diferente. Não se fala de super-herói e sua família. No máximo, superamigos. Mas fazemos muita referência aos filmes de 007. O Brad Bird (diretor) escolheu a trilha toda baseada nas aventuras de James Bond?, revela o animador brasileiro. ?Meu herói favorito é o Homem-Aranha, porque ele é o que menos se entrega à glória, não se prende a futilidades, a manias de superioridade.?

Dittz conta ainda que em Os Incríveis a equipe de animação usou novas tecnologias, que realçam os detalhes do interior do corpo em contraste com a luz. ?Isso foi testado em Procurando Nemo. Melhoramos os movimentos do corpo humano, levando em consideração as várias camadas musculares e ósseas. Assim, quando o animador põe a mão do vilão sobre um objeto, ele sabe quais as deformações musculares que a ação provoca. ?Dittz revelou também que tem trabalhado em curtas pessoais com o brasileiríssimo Saci-Pererê. Será que outros personagens se encaixariam bem em uma de suas próximas animações? ?Adoro o folclore brasileiro, mas a Pixar não aceita histórias de fora. Quem sabe algum dia isso mude…?.

Uma academia para animar Asterix

Eles não são estrelas como Carlos Saldanha nem moram fora do Brasil como Airton Dittz, de Os Incríveis, mas também fazem parte do fechado clube de profissionais do primeiro time da animação mundial. Esta equipe de 20 animadores brasileiros foi escalada para trabalhar na animação mais cara já feita na Europa: Asterix e os Vikings, um filme com orçamento de US$ 25 milhões. Os paulistas da Academia de Animação, uma escola que fica na zona sul de São Paulo, são responsáveis por 20% de toda a animação do longa-metragem.

Assim que a escola foi escolhida pela M6, grupo de investimentos francês em TV e cinema, o proprietário da Academia de Animação, Marcelo Fernandes de Moura, recrutou um exército de animadores para cumprir a missão de adaptar o livro Asterix e os Normandos para o cinema, previsto para estrear em abril de 2006 sob o nome Asterix e os Vikings. ?Contratei 20 alunos da escola e eles ficaram seis meses em Águas de Lindóia para criar o filme. Já é bem comum nos Estados Unidos tirar os animadores das grandes metrópoles para se concentrar melhor em cidades pequenas??, conta Moura.

Os brasileiros foram responsáveis pela ?intervalação?? do filme, termo usado para definir os movimentos de cada cena. ?Uma cena de quatro segundos leva uma semana inteira para terminar??, conta o animador Emerson Rodrigues da Silva, de 26 anos. Uderzo, criador do personagem gaulês, aprovou. ?Já estamos negociando uma série para a Fox Kids, um longa no estilo Procurando Nemo e quatro séries brasileiras??, diz Moura.

Brinquedos ??vivos?? e monstros

Um dos maiores sucessos da animação mundial até hoje também teve um toque brasileiro. Dois profissionais trabalharam duro para dar vida à turma de brinquedos de Toy Story 2, outra parceria da Disney/Pixar. Ivo Kos e Nancy Kato são exemplos de profissionais que, na falta de um mercado nacional de animação para longa-metragem, fizeram as malas e foram encarar o disputado mercado norte-americano. ?Não seria possível desenvolver o trabalho que faço nos Estados Unidos em nenhum outro país do mundo??, afirmou Ivo Kos, que aparece como um dos artistas da iluminação nos créditos da aventura dos bonecos Woody e Buzz Lightyear. Formado pela Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ, Kos preferiu explorar o universo da animação nos Estados Unidos, onde estúdios como a Pixar revolucionaram o gênero em 1995 com Toy Story, o primeiro longa-metragem realizado inteiramente por computação gráfica. Atualmente, Kos é um dos 450 funcionários da empresa situada em Richmond, na Califórnia.

Com doutorado em Tecnologia da Comunicação pela Universidade de Nova York, Kos criou a iluminação de 33 cenas de Toy Story 2, longa de John Lasseter. O brasileiro atuou em importantes seqüências, como a que os personagens arriscam a vida na pista de um aeroporto ou armam uma tremenda confusão em uma loja de brinquedos. Kos não parou mais: em 1999, participou como supervisor de efeitos especiais de Matrix e, em 2001, animou parte de Monstros S.A., outro sucesso Disney/Pixar.

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