Flávio Migliaccio volta à TV em ‘Tapas & Beijos’

Enquanto atores da nova geração se fazem de difíceis na hora de renovar a presença nas temporadas dos programas de TV de que participam, o veterano Flávio Migliaccio, de 79 anos, vai na contramão. Firme como o dono de restaurante Chalita na quarta temporada de Tapas & Beijos, que estreia nesta terça-feira, 8, às 22h30, na Globo, ele diz que a vaidade não o move.

“Tenho um defeito como ator, eu aceito todo personagem que aparece. Eu não consigo, não resisto. Não sei dizer que não quero fazer. Já fiz papel de árvore durante um ano, de ganso. Sou incapaz de rejeitar um papel. Quando o produtor ou emissora está pagando, fico sem jeito de dizer que não vou fazer. Não sou desses atores que ficam escolhendo.”

Apesar da idade avançada, o artista garante não ter vontade de se aposentar. “O ator nunca gostaria de parar. Você tem personagem até com mais de 100 anos. Eu nunca tive problema. O Mario Lago representou até fim da vida”, compara. Ele conta ser abordado por crianças, por causa do jeito ingênuo e do sotaque do personagem, de origem libanesa. “Esse retorno que o público dá faz com que a gente se sinta útil.”

Há mais de cinco décadas na profissão, mais tempo que seus colegas de elenco do seriado, o ator jura nunca ter sido seduzido pela exposição que o trabalho proporciona. “Não sou ligado a isso, badalação, festividade, querer aparecer na capa de tal revista, de namorar tal atriz para ficar na mídia. Eu sou um eterno amador, não consegui deixar de ser um amador. Não sei por quê. Tentei descobrir por que não consigo ser um profissional”, disse ao jornal O Estado de S.Paulo.

Migliaccio acredita ter mantido um ranço da época em que dava expediente no Teatro de Arena, na década de 1960. “Quando eu fazia teatro no Arena, era meio amador. Isso me deixava numa felicidade muito grande, pois a gente estava sempre estudando. Nunca estava satisfeito com a coisa.”

Palco

O ator pretende comemorar seus 80 anos, em agosto, com a peça Confissões de Um Senhor de Idade, escrita, dirigida e estrelada por ele e Otávio Müller, companheiro de Tapas & Beijos. “Sou eu conversando com Deus, que tomou uma forma típica da terra para poder conversar. Eu conto a minha vida artística, coisas que aconteceram comigo”, adianta Migliaccio. “Não falo nunca que deixei um legado. Não fiz muita coisa legal, não, fiz o normal. Eu sou um ator por acaso”, minimiza ele, que entrou para a profissão ao acompanhar um amigo em um teste de elenco.

O artista revela ter outros textos prontos, porém, nunca quis torná-los públicos. “Escrevi várias peças, mas não sou ligado em fazer. Não procuro dinheiro do governo para montar uma peça, não sou desses. Quando está pronta, deixo na gaveta. Tenho contos e romances até, mas não vou procurar um cara para editar. Não tenho jeito para isso. Aí que digo que sou um amador, não um profissional. O amador se satisfaz fazendo a coisa para ele. Se fiz e guardei na gaveta, já me realizei”, sentencia.

Mesmo presente no imaginário de diferentes gerações, o artista não ficou marcado como galã. “Na peça, há uma fala em que digo: ‘Como gostaria de contracenar mais com essas atrizes famosas maravilhosas, como a Carolina Dieckmann, Mariana Ximenes e Claudia Raia.’ A gente sempre sonha com isso. Também com grandes atrizes, como Laura Cardoso. Já fiz personagens com ela. Gostaria de fazer mais.”

Para ele, o grande barato da vida é o trabalho. “Minha maior frustração é quando faço uma novela e há um personagem que não tem uma cena comigo. Às vezes, esse ator já morreu e nunca tive uma cena com ele”, lamenta o paulistano, que mantém os colegas já mortos na memória. “Cada um deixou um pedaço da vida deles comigo, como Paulo Autran e Cleyde Yáconis. Procuro conviver com a lembrança de cada um, fazer o meu melhor pensando neles. Em todos os meus personagens escolho um desses grandes atores que já se foram e procuro falar ‘é para você colega’.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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