Filha do poeta Paulo Leminski lança ‘Poesia É Não’

Aos 18 anos, Estrela Ruiz Leminski tinha todas as dúvidas que uma menina dessa idade pode ter. Mas uma certeza, pelo menos, havia: gostava mesmo era de escrever poesias. E as escrevia, mas também as trancava. Seus escritos dormiam na gaveta de uma cômoda, no quarto. Estrela tinha vergonha de mostrá-los, pois comparava seu estilo ao de seus pais, os renomados poetas Paulo Leminski e Alice Ruiz. “E aí, eu achava o que fazia pequeno”, diz. Hoje, aos 30 anos, a escritora sedimenta o caminho próprio de quem superou as comparações. “Poesia é Não”, que acaba de chegar às livrarias, é o seu ‘destrancamento’.

Com poesias sem rimas óbvias, poemas visuais e haicais, o livro passeia por temas como o amor, o cotidiano e a política. “As poesias foram escritas em fases diferentes da vida e não necessariamente têm relação uma com as outras”, conta Estrela. Para unir então essas obras, construindo o sentido de unidade que um livro requer, a autora usou como elemento aglutinador a discussão do que é a poesia. Assim, entre um poema e outro, o leitor depara com frases como “a poesia não é de gaveta” e “poesia não é protesto”, construídas junto a fotos e colagens. Essa saída, porém, não funciona. Tanto as poesias quanto as frases sobre a poesia parecem trabalhos paralelos que não dialogam – o que não chega a tirar o brilho do livro.

O efeito colateral dessa discussão sobre a poesia revela a quem lê a busca da autora em resolver questões existenciais. “Pensei no que a poesia não era e também no que eu não era”, conta. “Ficou muito claro que não sou poeta por causa dos meus pais. Sou poeta apesar deles”, completa. Essa diferenciação, porém, não significa que ela negue as referências que ambos lhe legaram. “Via papai e mamãe digitando nas máquinas de escrever e ficava com vontade”. Outro legado foi o gosto pela música. Além de poeta, Paulo Leminski foi compositor. A mãe, Alice Ruiz, também compunha. Estrela, por sua vez, se formou em música, fez mestrado na área e canta com o marido, Téo Ruiz. Os dois gravaram três discos com composições próprias e fazem shows.

Essas referências musicais aparecem em “Poesia é Não”. O livro contém duas letras de músicas dela. “Sem a melodia, são poesias”, diz. Além do enxerto musical, vários poemas ressaltam o apreço da autora pela sonoridade. “Gosto das possibilidades que os sons das palavras oferecem”, conta.