Festival de cinema latino exibe ‘A Viúva Montiel’ em SP

O público tem hoje a chance de ver uma obra rara no Festival Latino-Americano de São Paulo. “A Viúva Montiel”, de Miguel Littín, passa às 19h30, na Cinemateca Brasileira. É uma história ambientada no interior da Colômbia. O chefete local, José Montiel, está morto, e sua viúva (Geraldine Chaplin) precisa enterrar o cadáver.

Com a morte do opressor, uma série de vinganças pode acontecer no vilarejo e Adelaida (Geraldine) deverá se prevenir. Em vez disso, dona agora da imensa fortuna deixada pelo marido, refugia-se num mundo de sonhos e recordações (recordar é apenas outra forma de sonhar). Littín, cineasta chileno, autor de uma obra-prima como “El Chacal de Nahueltoro”, encontra o tom justo para transformar em imagens o universo onírico de Gabriel García Márquez, autor da história original.

A desigualdade social extrema, os desmandos da política, a opressão dos ricos sobre os pobres, tudo isso gera uma atmosfera irreal na América Latina, que Gabo soube captar como ninguém. Littín mostra talento ao incorporar ao cinema esse clima onde a lógica não existe nos moldes clássicos e o absurdo parece natural. O filme é de 1979.

Outra atração é o contemporâneo “Assalto ao Cinema”, de Iria Gómez Concheiro, jovem realizadora mexicana que concorreu no recente Cine Ceará. A história é a de quatro jovens, amigos desde a infância, que cresceram na paupérrima Colônia Guerrero. Sem grana, planejam assaltar um cinema da cidade. O filme é ágil, cheio de pulsação jovem e traça um retrato realista do México atual. De mente aberta, sem moralismos, Iria evita clichês estéticos e desfechos edificantes, para apenas se concentrar no drama de uma juventude desassistida. O que se passa na Cidade do México poderia se passar em qualquer grande capital da América Latina.

É interessante comparar os registros dos dois filmes, feitos em épocas distintas. Deixando de lado o fato de Littín ser um mestre e Iria apenas uma iniciante, fica bastante clara a oposição de abordagens de realidades desfavoráveis. Se por um lado Littín emprega uma retórica um tanto decadentista para focar o anacronismo das relações de poder colombianas, por outro Iria opta por registro mais fotográfico, cru e como que despojado tanto de comentário quanto de sentimentalismo. Ambos os filmes, e sobretudo a diferença entre eles, são fundamentais para compreender as mudanças de percepção no desajuste social do continente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Festival de Cinema Latino – Memorial da América Latina (Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664). Tel. (011) 3823-4608. Grátis. Até 17/7. Programação: www.memorial.sp.gov.br

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