Família Felice Budel

O encontro da família Felice Budel, que se celebra em Santa Felicidade, é uma ocasião especial para renovar e celebrar a memória dos emigrantes que, depois de um século, partiram da Itália em direção a uma terra desconhecida, a ?Merica?, levando, junto com as sementes e os trabalhos, a honestidade, a laboriosidade e a fé, que caracterizam os italianos.

Com seu trabalho, empenho e determinação eles superaram as dificuldades e os obstáculos dos primeiros anos, os anos da ?grande fadiga? e deram aos seus filhos e descendentes a possibilidade de um futuro digno.

Hoje seus netos, os descendentes que aos milhões povoam o Brasil e contribuem em pleno direito com a vida social, econômica e política deste País, podem com orgulho unir-se ao redor dos mais velhos e agradecê-los pela grande lição de vida que souberam transmitir e por assegurar-lhes que os liames e as tradições da pátria italiana em terra brasileira não foram esquecidos, mas, antes, constituem um elemento a mais para o enriquecimento civil e humano da comunidade. (Gianni Piccato, Cônsul Geral da Itália em Curitiba, 17 de setembro de 2000).

Outro dia, recebi da colega Adalzi Catarina Gulin Paes, o livro 104 anos de História: famiglia Felice Budel. De autoria de José David de Ferreira Bandeira, editado em 2000 pela Gráfica Darnol, o livro tem por objetivo rememorar uma das maiores famílias do bairro Santa Felicidade, em Curitiba-PR, com destaque da imigração italiana.

Os italianos passaram momentos difíceis, tiveram que conviver com a miséria e com a fome, principalmente na época de conflito. O conflito militar Austro-Prussiana, em 1866, também conhecido como guerra das Sete Semanas, cujo vencedor foi a Prússia, acelerou o desequilíbrio social. No ano seguinte, a Prússia constituiu a Confederação da Alemanha do Norte, sem a Áustria, tornando-se a Alemanha. As pessoas que moravam perto da região (em Vêneto) do conflito, insatisfeitas, procuravam outras regiões. O Brasil passou a ser atrativo, pois tinha carência de pessoas que labutassem nas lavouras de café.

A região de Vêneto é extensa, dividida em várias províncias, Belluno é a que nos interessa. Em Belluno é encontrada a cidade de Feltre e distante desta, como uma fração, está Cesiomaggiori onde vivia Giacomo Budel e a esposa Pasqua Biazus. O casal teve onze filhos: Giovanni, Maria Luiza, Felice, Rosa, Antônio, Caterina, Teresa, Domênico, Agabito, Sebastiano e Giuseppe.

Aos 23 de novembro de 1889, Giacomo e Pasqua reuniram oito filhos e vieram para o Brasil. Na Itália ficaram os filhos Giovanni, Caterina e Felice, que faziam companhia ao tio (?Zio Barba?), de idade avançada.

Após três anos, a saudade se fazia sentir. Giovanni e Caterina embarcaram no Vapore Vitória com destino ao Brasil, encontraram a família em Santa Felicidade. Mas ainda faltava Felice Budel.

Felice esteve no exército italiano por quatro anos. Após ter exercido a função reservista, tentou por dois anos arrumar trabalho em países próximos, mas sem sucesso, pois estes países (Áustria e Alemanha) estavam em dificuldades; então resolveu reencontrar sua família no Brasil. Vendeu algumas cabeças de gado que seus pais deixaram e, em 1896, com 26 anos, chegou no Brasil.

Em Paranaguá, com pouco dinheiro, Felice vendeu dois ternos para custear a despesa do trem até Curitiba. ?Ao reencontrar sua família, sentiu nos olhos de sua mãe a falta que fazia no coração de todos, e foi aí que o ?papa? Giacomo mandou chamar todos os filhos que trabalhavam na roça e anunciou a grande festa que durou três dias e três noites? para comemorar a chegada do filho.

Com a família reunida, as energias redobraram. Estimulada, a família progrediu, consolidando-se na nova terra. Os filhos traçaram seus próprios caminhos.

Felice reencontrou Anna Maria Ferro, antiga conhecida da Terra Natal. Namoraram, noivaram e casaram aos 2 de setembro de 1899 na igreja matriz de São José, no bairro Santa Felicidade. Desta união surgiram 10 filhos: Josefina, Victor, Jacob, Páscoa, Antonio Pedro, Agabito Carlos, José, Angela, Natália e Antônio.

Páscoa Budel e Frederico Domingos Gulin pais da colega Adalzi tiveram sete filhos: Arzemir, Arcedineo, Odair, Adalzi, Marilene, Ioreme e Sueli. Adalzi que é a quarta filha do casal se casou com Airton Costa Paes e teve três filhos: Adriane, Liliane e André.

Jorge Antonio de Queiroz e Silva é pesquisador, historiador, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

queirozhistoria@terra.com.br

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