Estréia hoje Fahrenheit – 11 de Setembro

Ao repórter, que o seguiu na Croisette, o calçadão de Cannes, quando ele foi levar sua solidariedade aos grevistas que ameaçavam paralisar o maior festival de cinema do mundo, Michael Moore disse que não se importava muito com as acusações de que é maniqueísta e manipulador. “Se as pessoas acham que manipulo, o que elas vão dizer de George W. Bush e dos que o cercam?”, perguntou, em tom de provocação. Michael Moore terminou ganhando a Palma de Ouro por seu documentário Fahrenheit – 11 de Setembro, que estréia hoje, em 50 salas de todo o Brasil. Ele é mesmo maniqueísta e manipulador. É exibicionista, também, aparecendo demais em seus filmes, mas nada disso retira a importância de Fahrenheit.

Quem tem medo de Michael Moore? Quem precisa de Michael Moore? Você já ouviu essas (e outras) interrogações. Morgan Spurlock, diretor de outro documentário de sucesso – Super Size me, sobre (e contra) a rede de fast food McDonald?s -, entrevistado na segunda-feira, disse que todos precisamos de Moore. “Ele prova que o documentário é a última fronteira da expressão livre, neste mundo global dominado pelas grandes corporações.” O mais polêmico diretor de documentários do mundo só precisa agora que o presidente Bush não seja eleito.

A reportagem ouviu muita gente no País para tentar entender (e decifrar) o fenômeno Michael Moore. E o mais polêmico sobre ele é que pode manipular, mas não mente – tudo o que diz é documentado e as provas são expostas. Nada é mais eficaz, de qualquer maneira, do que mostrar o próprio Bush.

É só parcialmente verdadeira a afirmação de que nada do que ele diz (ou prova) em Fahrenheit – 11 de Setembro é novidade. Você podia saber do envolvimento do presidente com a família Bin Laden, das falhas de defesa que culminaram no trágico 11 de setembro e do interesse econômico por trás da Guerra do Iraque, mas nunca essas informações foram contextualizadas com tanta clareza. E existem as imagens que você, com certeza, nunca viu -as de Bush naquela escola da Florida, ao ser informado do segundo ataque às torres gêmeas, possui extraordinário valor de documento. O cinismo do presidente falando para sua base – a elite econômica do mundo; ou pedindo atenção para uma jogada de golfe após um rápido discurso patriótico contra o terrorismo, expõem o homem por trás da instituição com uma virulência como só o cinema pode fazer. Moore acredita na força do cinema para desmontar a indústria da paranóia montada no país. Você não precisa concordar com o júri presidido por Quentin Tarantino, que disse que Fahrenheit ganhou a Palma de Ouro por sua excepcional qualidade como cinema. Foi uma palma política. Resta saber se será eficaz.

“Os brasileiros ficaram de fora”

“Quero agradecer ao povo brasileiro por não fazer parte dessa coalizão”

Para divulgar Fahrenheit na imprensa internacional, Michael Moore deu apenas uma entrevista coletiva, em Nova York. A seguir, alguns trechos :

P – Que impacto você espera que seu filme consiga causar no restante do mundo?

Michael Moore – Acho que os espanhóis começaram dando o exemplo, pondo para fora o primeiro-ministro que não ouviu a vontade do povo. Sinceramente, espero que os outros líderes que se juntaram a Bush nesta guerra também sejam removidos pelos cidadãos de seus países e espero que esse filme ajude a fazer isso. Quero agradecer ao povo brasileiro por não fazer parte dessa coalizão.

P – Há alguma coisa que outros países possam fazer para mudar a política nos EUA?

Moore – Neste ponto, não há nada que possam fazer. Está nas nossas mãos. O que podem fazer, se acreditam em orações, é rezar. Ou então os austríacos poderiam prometer férias com esqui de graça aos americanos que provarem não ter votado em Bush… Os argentinos poderiam prometer bifes de graça…

P – O que você acha de descarregar seu filme na internet?

Moore – Não estão descarregando meu filme. Estão colocando na internet cópias de vídeos ruins, feitas ilegalmente. Quando o filme sair em DVD, vou ficar feliz que as pessoas compartilhem cópias. Sou contra as leis americanas de direitos autorais, pois acredito que as pessoas deveriam compartilhar obras de arte. Se alguém aluga um filme ou compra um livro e quer dividi-lo com um amigo ou vizinho, sou a favor.

P – Fahrenheit é apontado como peça de propaganda.

Moore – Se o New York Times apóia alguém para presidente dos EUA, isso significa que não é um jornal? É claro que o filme é um documentário, um trabalho jornalístico. Mas jornalismo da página de opiniões. É minha opinião, baseada em fatos. Minha opinião pode estar certa ou errada. Vamos discutir isso, vamos debater. Mas o que apresento no filme são fatos e são irrefutáveis.

Nicole Kidman está em Mulheres Perfeitas

Mulher perfeita é que nem nota de R$ 3. Não existe. As que são bonitas não sabem cozinhar, as que têm prendas mil, acordam de mau humor e daí por diante. Por isso mesmo, Mulheres Perfeitas – título em português de The Stepford Wives – já diz a que veio logo de início. O negócio não pode ser sério.

Pela história, baseada num livro de Ira Levin, o longa encabeçado pela irretocável (mas não perfeita) Nicole Kidman, bem poderia ser um filme de David Lynch, daqueles capazes de criar estranhos pesadelos. Mas, nas mãos do diretor Frank Oz (de A pequena loja dos horrores), Mulheres Perfeitas virou mesmo foi uma comédia de humor negro com toques de ficção científica.

Nicole é Joanna, uma executiva de televisão que é demitida e se muda de Nova York com o marido (Matthew Broderick/Walter) para uma pequena cidade, Stepford (daí o título original do filme, As Esposas de Stepford). Lá, ela encontra um mundo quase surreal: uma sociedade em que as mulheres, vestidas à moda dos anos 50 – como se saídas de um comercial de torradeiras – e sob o comando de uma “matriarca” (Glenn Close/Claire), vivem para servir aos maridos.

Walter, o marido banana, fica feliz da vida com a novidade. Mas Joanna, esperta, logo percebe que há algo de errado naquele comportamento. No elenco estão ainda Bette Midler, Chistopher Walken e a cantora Faith Hill, que estréia como atriz.

Na refilmagem do homônimo de 1975, Oz encontra aí material para criticar feminismo e machismo, a falta de valores da sociedade moderna e o conservadorismo republicano. Tudo com mais humor do que o original, um “cult” do suspense de ficção científica, e um conjunto de excelentes piadas com referências cinematográficas.

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