Especial de Rita Lee será lançado em DVD

Ela anda meio desligada, fora do circuito, e volta agora com o registro de um programa de TV que flagra seu período de maior sucesso. Tirado do especial Rita Lee Jones, exibido pela Rede Globo em novembro de 1980, esse DVD é mais um fruto da parceira da gravadora Trama com a Som Livre, a Globo Marcas e a Lereby, que, no ano passado, editara, da mesma série Grandes Nomes, Elis Regina Carvalho Costa.

Em entrevista feita por e-mail – nos últimos anos, a forma preferida por Rita para se comunicar com o mundo exterior -, a cantora diz que não participou dessa produção. ?Só tomei conhecimento que esse programa iria ser revisitado quando já estava na fase de mixagem. E fiquei feliz de saber que João Marcello (Bôscoli, um dos sócios e o diretor artístico da Trama) estava na jogada, adoro esse menino?.

Felicidade que Rita não demonstra na inevitável pergunta sobre a volta dos Mutantes. O grupo – com os irmãos Sérgio Dias (Baptista) e Arnaldo (Dias) Baptista, mais seu baterista nos anos 60s, Dinho Leme, e participação especial da cantora Zélia Duncan, e que acaba de ser oficialmente incorporada ao grupo – fez um show em Londres, em maio passado (na retrospectiva da Tropicália, realizada no Barbican), e agora se prepara para uma turnê nos EUA, entre 21 de julho e 2 de agosto.

?Desconfio de revivals, parece um bando de velhinhos espertos tentando descolar grana para pagar seus geriatras?, desfere, numa cabeçada à la Zidane, Rita.

De volta a Rita Lee Jones, cabeçadas e beijos mutantes à parte, o especial é outro departamento. A carreira solo de Rita já era uma realidade na época, e chegava ao auge graças à parceria com o também marido Roberto de Carvalho. É tempo de sucessos como Mania de você, Lança-perfume, Baila comigo, Doce vampiro, Caso sério e Bem-me-quer, nos quais a dupla unia o pop de então com o espírito da bossa nova e das marchinhas carnavalescas. Mas como Rita e Roberto arquitetaram esse rockarnaval? ?Nada era arquitetado naquela época, não existia esse lance chato de carro-chefe, nem as tais estatísticas de marketing tão comuns hoje nas gravadoras. Roberto e eu compusemos tais músicas simplesmente porque a nossa praia era música e não administração de empresa?.

Dirigido por Daniel Filho, com produção musical de Guto Graça Mello, Rita Lee Jones reuniu um time de instrumentistas – um roqueiro do Tutti Frutti (o baixista Lee Marcucci), cobras dos estúdios como Lincoln Olivetti (teclados), Robson Jorge (guitarra), Chico Batera (percussão), Leo Gandelman e Oberdan Magalhães (saxofones). Rita não se lembra do tempo de ensaio que teve com os 18 músicos e vocalistas, mas não se esquece da experiência com o diretor:

?Trabalhar com Daniel Filho é uma farra, ao mesmo tempo em que rege a orquestra com punho firme ele também proporciona uma leveza na direção. No fim tudo dá supercerto, até o errado dá certo. O repertório foi escolhido de comum acordo, a gente queimava um baseado e ficava lá garimpando as músicas?.

Ela faz um balanço positivo do período de sucesso comercial, e nariz torcido por parte de fãs roqueiros e críticos ortodoxos da MPB.

?Esse especial demonstra que podemos mexer no baú da nossa vida sem desencantar a época em que foi feito. E percebo com alegria que os indignados ladraram inutilmente, porque nossa caravana continua desfilando com elegância?, ressalta.

Em fase de entressafra – segundo a EMI, Rita não tem disco previsto para este ano – Rita Lee Jones é bem-vindo. Boa oportunidade também para a Trama, que, segundo Bôscoli, negocia com a Rede Globo outros títulos da série Grandes Nomes.

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