Escritora mineira foi a mais aplaudida

Paraty  – A escritora mineira Adélia Prado foi a mais aplaudida e teve a mesa de autógrafos mais concorrida entre os autores convidados da 4.ª Festa Literária Internacional de Paraty (quatro horas atendendo a quase 700 leitores), que terminou anteontem (13) e reuniu público estimado entre 12 e 13 mil pessoas. O fato de uma poeta ser o nome mais popular entre os 37 convidados da festa, marcada por debates e manifestos políticos, pode significar o esgotamento de uma discussão polarizada a respeito da hegemonia dos EUA sobre os demais países do mundo – representada, simbolicamente, pela presença na Flip de dois ex-amigos, o paquistanês Tariq Ali, que critica os EUA, e o inglês Christopher Hitchens, que defende a intervenção americana no Iraque e no Líbano.

Adélia Prado acenou com uma terceira via: a do reconhecimento da alteridade. Demonizar os americanos ou o mundo islâmico pela crise mundial não vai nos levar a lugar nenhum.

Foi a própria Adélia que, na mesa de encerramento da Flip, dedicada aos livros de cabeceira dos autores, lembrou o seu, citando A transparência do mal (editora Papirus), do pensador francês Jean Baudrillard. O teórico crítico adverte que no mundo pós-moderno, em que a história foi expurgada e não há nada senão um simulacro da realidade e a negação dessa história, os grandes conglomerados de comunicação assumiram o papel de ?construtores ideológicos da realidade virtual?. Sobre essa estratégia ilusionista, a escritora mineira lembrou que foi o próprio Baudrillard a fazer uma profecia terrível sobre um projeto destinado ao fracasso, o da União Européia. ?Baudrillard previu que essa tentativa de ?fraternidade?? vai provocar ainda muitas guerras e racismo.? Em outras palavras: toda tentativa de uniformização cultural leva ao fascismo e não ao reconhecimento do outro. (AE)

Sete escritores revelam seu livro de cabeceira

Ubiratan Brasil

Paraty – Já se tornou uma agradável rotina a Flip terminar na tarde de domingo com um encontro entre um grupo seleto de escritores, que revelam o título de seu livro de cabeceira. Enquanto alguns revelam paixões duradouras, outros preferem apontar o preferido de ocasião.

O americano Jonathan Safran Foer foi o primeiro e escolheu a Bíblia, mais especificamente o Livro do Gênese. ?Gosto do trecho em que Deus cria a luz apenas utilizando as palavras, com o poder criador do verbo?, justificou.

Já a escocesa Ali Smith sacou o livro Short, short, que reúne os contos mais curtos do mundo, para ler Depois do teatro, de Chekhov. Bem mais expansivo, o português Mário de Carvalho fez uma intensa explanação sobre o padre Vieira, de quem escolheu O sermão de Santo Antônio aos Peixes. ?São várias razões, mas especialmente pela interrogação que se põe na carreira do escritor?, disse.

O americano Edmund White não surpreendeu ao citar Em busca do tempo perdido, de Proust, do qual escreveu a biografia, Representando os brasileiros, Adélia Prado citou A transparência do mal, de Jean Baudrillard (Padecemos de horror à realidade: só a virtual nos interessa). O encontro terminou com o inglês Benjamin Zephaniah, que escolheu Filosofia e Opinião, de Marcus Garvey, e com o mexicano David Toscana e A metamorfose, de Kafka. (AE)

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