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Emoções fortes dão o tom de filmes intensos

Tem sido um choque atrás do outro. Luca Guadagnino e, pelo lado do Brasil, Juliana Rojas e Marco Dutra, Carolina Jabor e Lucrecia Martel. O que a grande autora do cinema argentino tem a ver com o Brasil, exceto o fato de estar mostrando seu novo filme, Zama, no Festival do Rio? A própria Lucrecia esclarece. “Havia conhecido a produtora Vânia Catani, da Bananeira Filmes, em Havana, em 2008. Ela (Vânia) chegou a me propor uma possível parceria, uma adaptação de Clarice Lispector, mas a coisa não andou. Quando Zama começou a ficar viável, eu tomei a iniciativa de procurar Vânia”, conta Lucrecia. “Precisava do Brasil não só como aporte financeiro, mas cultural. Precisava desse cara”, e Lucrecia dá um abraço carinhoso em Matheus Nachtergaele, que a acompanha na entrevista, realizada num hotel de luxo em São Conrado.

Zama investiga a época colonial na Argentina. O filme leva o nome de seu protagonista, um funcionário da Coroa espanhola que trabalha como corregedor na fronteira paraguaia. Zama está cansado desse mundo. Espera que o governador-geral leve adiante seu pedido de transferência, e no fundo ele quer voltar para a casa, para a mulher e os filhos, que já estão grandes. O tema de Zama é essa espera sem fim. “A tradição judaico-cristã, da qual somos depositários, criou no nosso imaginário essa ideia de que vivemos para um fim. E, de tanto vivermos pensando no futuro, deixamos de viver o presente.” Zama é sobre isso. E, enquanto espera, o corregedor é assombrado por esse perigoso bandido que age na colônia – e que Matheus Nachtergaele interpreta.

O ator conta que teve com Lucrecia uma dessas trocas viscerais que ocorrem na vida de artistas. Já é lendária sua parceria com o diretor Cláudio Assis. Lucrecia não o levou somente ao imaginário do colonialismo. Filmou em lugares inóspitos, na natureza selvagem. “Foi intenso”, avalia Nachtergaele. É intenso para o público, literalmente ‘tomado’ numa viagem sem volta, com ecos de filmes tão grandes como Aguirre, de Werner Herzog, ou Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, para não falar de O Deserto dos Tártaros, de Valerio Zurlini. “(O escritor) Dino Buzzatti foi uma de minhas referências pessoais mais fortes”, admite a diretora.

Zama está apontado para estrear em janeiro de 2018, distribuído pela Vitrine. Em janeiro – dia 18 – também estreia Me Chame Pelo Seu Nome, o filme do italiano Guadagnino coproduzido pela RT Features, do brasileiro Rodrigo Teixeira, e a distribuição é da Sony. A empresa trabalha – e a data foi escolhida a contento – na expectativa de que Me Chame seja indicado para o Oscar na categoria principal. Um garoto, Timothée Chalamet, sente-se atraído e, finalmente, apaixona-se por um homem mais velho, um erudito dos EUA que vem realizar uma pesquisa com seu pai no norte da Itália. Armie Hammer faz o papel. Verão, o despertar do sexo. Desejo. Inverno – amadurecimento forçado, precoce. Desilusão? Me Chame Pelo Seu Nome é belíssimo. O primeiro grande filme de 2018? Talvez, mas só se for com o de Lucrecia Martel. Guadagnino prefere não alimentar a expectativa. “Não quero me decepcionar.” Mas a expectativa existe, sim, ele não consegue negar.

Timothée e Hammer comem-se com os olhos antes da cena de sexo, que vem e é discreta. O filme terá problemas nesse Brasil de novo reprimido? Há outra cena de sexo homo, e bem mais gráfica, em As Boas Maneiras, de Marco Dutra e Juliana Rojas. Patroa e empregada, Marjorie Estiano e Isabél Zuaa, que já estava em Joaquim, de Marcelo Gomes. Noites de lua cheia, o fantástico. Ecos de O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski. Marjorie – sua personagem – está grávida. Que bebê é esse? As Boas Maneiras é bem filmado e interpretado. Cinema de gênero – como Dutra e Juliana gostam. Aos Teus Olhos é ainda mais forte. Daniel de Oliveira faz um instrutor de natação acusado, nas redes sociais, de abusar de um aluninho. É chamado de pervertido, toma porrada. Todo mundo, a própria diretora da escola, quer saber se é gay, como se isso resolvesse o problema, ou esclarecesse a questão. Sinal dos tempos? Importante é que Carolina Jabor, a diretora, filma muito bem e Daniel é fora de série como ator. O filme, de qualquer maneira, desconcerta. Cadê o terceiro ato? Quando a coisa esquenta… A questão é – como se termina um filme desses? A História, com maiúscula, talvez nos venha dizer.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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