Em sua 7ª edição, Festlip homenageia a diretora Manuela Soeiro

Além de aproximar o público brasileiro da produção teatral dos países de língua portuguesa, a atriz Tânia Pires, coordenadora do Festival Internacional de Teatro da Língua Portuguesa (Festlip), ambiciona, nesse momento, estimular intercâmbios por meio de iniciativas específicas. Nessa 7ª edição – que começa nesta terça, 26, e se estende até o dia 6 de setembro, em espaços diversos do Rio -, a companhia portuguesa Teatro da Garagem, fundada em 1989 e conduzida por Carlos J. Pessoa, está à frente de um projeto que consiste na realização de um espetáculo, a partir da oficina A Falar que a Gente se Entende, com atores de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Brasil (a própria Tânia Pires) e Portugal (Maria João Vicente, atriz do grupo). “Na seleção para esse Festlip, priorizei possibilidades de intercâmbios”, confirma Tânia, que informa que o único grupo brasileiro incluído na programação – o Luna Lunera, de Belo Horizonte, que esteve anteriormente no festival com o espetáculo Cortiços e retorna com a bem-sucedida montagem de Aqueles Dois, baseada em conto de Caio Fernando Abreu – planeja estreitar contato com o teatro português.

O Festlip, que, desta vez, reúne oito encenações de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e da região da Galícia, todas com entrada gratuita, também chama atenção pela homenagem à produtora e diretora Manuela Soeiro, que já veio ao festival com as montagens de As Filhas de Nora, adaptação de Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen, e Sexo? Sim, obrigada! Ou Arte de Ganguissar, de Jacopo Fo.

Agora traz Os Meninos de Ninguém, espetáculo do repertório de sua companhia, a Mutembela Gogo, de Moçambique, fundada em 1986, sobre crianças condenadas a viver na rua, sem perspectivas de futuro. “Frequentemente alguns meninos passavam pela nossa porta. Procurei abrigá-los, fornecendo local para dormir, brincar, ter aula. Mas os pais apareceram para negociar conosco porque as crianças garantiam o sustento. Diante desse fato, elas voltaram para casa. O texto surgiu do convívio com eles”, explica Soeiro, autora com o célebre Mia Couto e com Henning Mankell, seu parceiro na direção da montagem, que estreou em 1993.

Capitaneado por Soeiro no Teatro Avenida, o grupo costuma oscilar entre a encenação de material dramatúrgico resultante de criação coletiva e peças de autores importantes – como Aristófanes (Lisístrata), Shakespeare (Hamlet), August Strindberg (Senhorita Julia) e Dario Fo (Não se Paga! Não se Paga!) -, transportadas, porém, para o contexto de Moçambique, país onde determinados autores brasileiros são difundidos, casos de Nelson Rodrigues, Plínio Marcos e Ariano Suassuna.

A conexão não se limita aos nomes consagrados. Criada em 1988, a companhia Elinga Teatro, de Angola, mostra no Festlip a montagem de As Bondosas, do brasileiro Ueliton Rocon, texto centrado em três carpideiras que, revoltadas por causa da falta de valorização de sua função, transitam da reza para a fofoca, revelando os segredos que escondiam umas das outras e do mundo. O espetáculo é assinado por José Mena Abrantes, que montou mais textos brasileiros, como Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, Dois Perdidos numa Noite Suja, de Plínio Marcos, e Há Vagas para Moças de Fino Trato, de Alcione Araújo. Abrantes escreveu ainda Quotidiano – Esta não é uma História de Amor, tarefa dividida com três autores (Ivam Cabral, do grupo Os Satyros, representando o Brasil, Rui Zink, de Portugal, e Abraão Vicente, de Cabo Verde) num sistema de trabalho em que cada um dava continuidade à história do ponto em que o outro parou. A montagem de Quotidiano deverá integrar a programação do próximo Festlip. No que se refere ao teatro angolano, de acordo com Abrantes, a situação no país é precária. “Apesar de haver mais de 100 grupos na capital, não existe formação especializada. E quase não há salas de teatro.”

Complementando o Festlip, as montagens de Filhos da Pátria, do grupo Kulonga, de Angola, Adão e Eva, da Sikinada – Companhia de Teatro, de Cabo Verde, Barbazul, dirigida por Marta Pazos, da Galícia, Misterman, a cargo de Elmano Sancho, e Finge, do citado Carlos J. Pessoa, as duas últimas de Portugal. E o festival promove um concurso de poesia para celebrar os 450 anos do Rio. “Escolhemos 15 poemas, que foram interpretados por atores e registrados em exposição audiovisual que poderá ser conferida no Oi Futuro/Flamengo”, assinala Pires. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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