Eldorado revisita cantora portuguesa

Eugénia de Melo e Castro sempre teve uma “queda” pelo Brasil. Com mais de vinte anos de carreira, muitos deles dedicados à nossa música, ela esteve no Brasil para o lançamento de seu disco Motor da luz, gravado em São Paulo, em junho de 2000. E acompanhar o trabalho da Eldorado, selo paulistano que está relançando seu catálogo, destacando-se Duetos, também do ano 2000, um de seus grandes sucessos em Portugal.

Acústico e intimista, Motor da luz foi lançado anteriormente em Portugal e a faixa-título é da trilha musical do filme Tieta do Agreste. Nele estão as seguintes regravações: Longe (1988), Laziest girl in town (1993), Quando a tua boca beijo (1990), e Meia-noite.

Neste repertório afetivo, Eugénia finalmente gravou Bem que se quis, feita para ela (por encomenda) por Nelson Motta. Foi ela quem descobriu a música de Pino Danielle e pediu a Nelsinho para escrever uma versão em português. Mas Eugénia acabou cedendo a música, a pedido do próprio Nelson Motta, para o disco de estréia de Marisa Monte.

Ela mistura, numa mesma faixa, música de Herbert Vianna, Hekel Tavares (compositor brasileiro erudito do princípio do século XX) e Arnaldo Antunes, sob o tema a que chamou “o ciclo das estrelas” – Lição de astronomia / Estrella pequenina / Estrelas.

Uma pérola neste disco é a canção Espera coração, de Custódio Mesquita, inédita, encontrada por Wagner Tiso apenas em partitura. O músico mineiro assina a direção musical e arranjos do CD, além de dirigir a Camerata Tiso, que acompanha Eugénia, formada por cordas, piano, bateria e percussão. A harmonia entre os arranjos totalmente novos e releituras propiciaram a fusão entre o erudito, o popular e o jazz, permitindo à cantora improvisar e interpretar livremente.

Retrato em branco e preto, de Chico Buarque e Tom Jobim, aparece aqui na íntegra, seguida de citações musicais de Gota d’água e Coração vagabundo, terminando com a inédita Viver sem ninguém, do compositor carioca Valzinho, um boêmio dos anos 50. O CD termina com a parceria inédita de Eugénia e Gonzaguinha, Surpresas, guardada há 14 anos e que finalmente se mostra.

Divisor de águas na carreira de Eugénia, Motor da luz encerra um ciclo musical onde, em muitas travessias atlânticas, ela desenvolveu seu talento como intérprete. Nesse ciclo está o CD Duetos, em que compartilha sua voz com obras de Tom Jobim, Chico Buarque, Gal Costa, Caetano, Ney Matogrosso, Gonzaguinha em Surpresas (a razão inclusive do disco), Wagner Tiso, Carlos Lyra, Paulo Jobim, Toninho Hora e Simone. Agora, encerrando essa travessia, Eugénia Melo e Castro parte para o desenvolvimento da criação autoral.

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