Elba Ramalho celebra 30 anos de carreira

A estrada do Joá, no Rio de Janeiro, tem algo de paradisíaco. A vista da Pedra da Gávea e a mata fechada trazem paz de espírito e tranquilidade. Nesse cenário, a cantora Elba Ramalho construiu sua moradia. Dentro do terreno, piscina, antessalas e um estúdio onde a cantora gravou seus últimos dois discos são o refúgio para ela, sua irmã Vavá, as três filhas adotadas e o músico e namorado Cezinha do Acordeom.

Elba, 57 anos, inicia as comemorações de 30 anos de carreira lançando o CD ‘Balaio de Amor’, seu 30º disco, que reúne baiões e xotes de compositores pós-Luiz Gonzaga. Na entrevista que a cantora concedeu em sua casa, Elba não só falou do novo disco – lançado desta vez pela Biscoito Fino – como trouxe sua carreira toda para a conversa, desde os tempos em que fazia parte de uma banda apenas de mulheres na Paraíba. “Fui baterista de uma banda de rock em 1968. Foi uma revolução. Todo mundo achava que eu era uma vadia, uma louca. Na verdade, quando fui para o Rio de Janeiro, aos 21 anos, ainda era virgem.”

Desde aquela época, Elba foi levar sabor nordestino para a cidade grande. “O Nordeste me toma como porta-voz. Apresentei muita gente nesse tempo todo. Lenine, Carlinhos Brown, Chico César. Cantei para as elites, consegui furar o bloqueio das classes A e B de São Paulo e Rio. Não foi fácil cantar forró, ser capa da Veja e lotar o Canecão três meses vindo de um lugar como a Paraíba.”

Balaio de Amor, gravado em apenas sete dias em sua casa, revela novamente a Elba do Nordeste. Ela dá crédito pela escolha do repertório a seu namorado, produtor e músico 33 anos mais moço que a cantora. “Essa é uma maneira de mostrar que não existe apenas o forró pornográfico, com bandas que não têm a menor pretensão de manter uma tradição cultural. Eles querem comércio, sacanagem, palavrão. Os compositores que eu escolhi representam a resistência.” Nomes como Accioly Neto, Xico Bizerra e Teresinha do Acordeom estão entre eles. Dominguinhos, parceiro desde seu primeiro disco (Ave de Prata, de 1979), também comparece com duas composições.

Dos loucos anos 80 e 90, Elba lembra do estouro de Banho de Cheiro, De Volta pro Aconchego e Bate Coração. “Eu era uma novidade. Só existiam Gal, Bethânia e Simone. Elas faziam shows, eu fazia espetáculo.” Já no início dos anos 90, Elba recusou um convite do empresário Ralph Mercado, que cuidava da carreira do Tito Puente, India e Celia Cruz.

Mercado queria transformar Elba numa espécie de cantora que Shakira veio a ser anos depois. Ela diz ter recusado a proposta de morar nos Estados Unidos e aprender espanhol, pois não conseguiria ficar longe do seu forró. “As pessoas me chamavam da nova Carmem Miranda, da Tina Turner brasileira. Mas iria ter de me transformar em outra pessoa e acabei fugindo daquilo tudo. Voltei pra casa.”

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